terça-feira, 13 de maio de 2008

OS PAIS DA IGREJA

O VALOR DE CONHECER A IMPORTANCIA DA TEOLOGIA PATRÍCISTICA

Houve tempo em que as obras dos Pais da Igre¬ja só eram acessíveis aos que dominavam o grego e o latim. Os demais teólogos, ainda que bem preparados academicamente, viam-se na contingência de se conformar com os excertos garimpados nos in¬térpretes da patologia. Aliás, tam¬bém não eram muitos os clássicos brasileiros versados nas duas prin¬cipais línguas da civilização ociden¬tal. Machado de Assis, por exemplo, chegou a aventurar-se pelo univer¬so de Homero. Não sabemos porém se, nesta empreitada, logrou algum êxito. Em sua época, nossos escrito¬res valorizavam mais o francês do que o latim e o grego.
Semelhante dificuldade era en-rrentada pêlos portugueses. Se por um lado, Latino Coelho trabalhava com singular mestria as línguas clás¬sicas; por ou to, grande parte de seus coevos, apesar de serem mestres no vernáculo de Camões, mui pouco sabiam das línguas de Péricles e de Vergüio. O professor Mário A. San¬tiago de Carvalho, da Universidade de Coimbra, reconhecia a limitação de seus compatriotas: "Ainda está por fazer a história e o exame dos estudos sobre a Patrística em Portu¬gal, particularmente no âmbito alheio ao Universitário e/ou no am¬biente romântico".
Todavia, não podemos esque¬cer-nos da contribuição de Olivei-
ra Martins ao estudo da patrística. O mais ilustre dos historiadores portugueses, fascinado pêlos Pais da Igreja, empreendeu uma exaus¬tiva pesquisa sobre os primeiros teólogos do cristianismo. Em 1878, publica ele O Helenismo e a Civili¬zação Cristã. Nesta obra, observa Martins que os problemas que fus¬tigavam os pais da Igreja eram os mesmos que se abatiam sobre o cristianismo de seu tempo.
Hoje, além das Sagradas Escrituras, também contamos com o auxílio de uma patrística exaus¬tivamente pesquisada; traduzida com esmero, acha-se ao alcance de todos os que se interessam por uma literatura lidimamente cris¬tã. Embora transcorridos todos esses séculos, seus autores ainda são admirados pela eloquência, coragem e audácia em sua apolo¬gia das verdades absolutas e eter¬nas do cristianismo. Antes de mais nada, conscientizemo-nos: a patrística não é um monopólio da Igreja Católica; é um património de toda a cristandade.
PATRÍSTICA, UM PATRIMÓNIO DE TODA A CRISTANDADE
António Vieira, o maior repre¬sentante da oratória sacra da língua portuguesa, costumava ilustrar os seus sermões com extratos e histó¬rias dos Pais da Igreja. Profundo conhecedor da literatura clássica,
transitava desenvoltamente pelo universo greco-latino. Quem não se encanta com o Sermão da Sexagési¬ma? Acredito que Vieira não se des¬taca apenas no universo lusófono. Ao lado de Bossuet e Crisóstomo, pontifica-se entre os maiores púlpi¬tos da cristandade.
Bernardes, sempre polido e terso, também refez o caminho dos pais eclesiásticos, ornando, de um modo singelamente belo, sua Nova Floresta. Nas histórias que conta e nas máximas que cita, mostra sua vasta cultura clássica. E como sói acontecer com um erudito de sua envergadura, traz os Pais da Igre¬ja às suas páginas num estilo que, até hoje, serve de modelo aos es¬critores brasileiros e portugueses.
Hoje, ambos os autores consti¬tuem-se em leitura obrigatória daqueles que almejam aprender, de fato, a língua lusíada.
Depois de Vieira e Bernardes, quase nenhum teólogo, quer em Portugal, quer no Brasil, pôs-se a cultivar os Pais da Igreja como eles realmente merecem. Conforme já ressaltamos, tinha-se a impressão, até bem recentemente, de que a patrística era monopólio católico. Todavia, com o aprofundamento dos estudos teológicos pêlos evan¬gélicos, viemos a redescobrir os primeiros doutores da igreja como uma dádiva a toda a cristandade. Haja vista que, tanto Lutero quanto Calvino, eram íntimos daque¬les homens que, num momento particularmente difícil do povo de Deus, saíram em defesa do autên¬tico cristianismo.
O QUE É A PATRÍSTICA?
O que é a patrística? Se o teólo¬go, por conseguinte, se propuser a conhecer, sincrônica e diacroni-camente, uma doutrina das Sagra¬das Escrituras, terá de recorrer, ne¬cessariamente, à patrística.
Patrística - Oriundo do latim eclesiástico, o termo patrística de¬signa a disciplina que tem por ob-jeto a doutrina formulada pêlos mestres da Igreja Cristã nos primei¬ros oito séculos de nossa era. Eram aqueles teólogos conhecidos como Pais da Igreja não apenas pelo res¬peitável saber da Palavra de Deus, mas principalmente pelo seráfico zelo demonstrado pelo rebanho de Nosso Senhor Jesus Cristo. Alguns deles, aliás, vieram a selar a fé com o próprio sangue. A patrística é conhecida, também, como patrologia. Se o primeiro vocábulo considera apenas a doutrina, o se¬gundo reconsidera tanto esta como a vida dos Pais da Igreja.
Ministério dos Pais da Igreja - Três foram os principais ministérios exercidos pêlos pais eclesiásticos: apologético, polémico e dogmático.
Em primeiro lugar, saíram eles em defesa dos cristãos que, aos milhares, eram martirizados por sua fé. Ousada e corajosamente, enviaram diversos documentos às autoridades romanas, provando serem os discípulos de Cristo bons cidadãos e cumpridores de seus
deveres; não se justificava, portanto, a perseguição que contra estes era movida. Entre os apologistas, destaca-se Tertuliano (155-220). Em sua Apologia, apresenta uma brilhante defesa dos cristãos ante as autoridades imperiais de Roma.
Logo em seguida, expuseram-se eles a resguardar a santíssima fé contra aqueles que, saídos da Igreja cristã, buscavam persegui-la com suas doutrinas alienígenas e exóticas. Algumas dessas celeumas levaram os líderes a reunirem-se em concílio, preservando a pureza da teologia cristã. Entre os que mais se destacaram na área da polémica, acha-se Atanásio (295-373), conhecido como o pai da ortodoxia bíblica.
Finalmente, os Pais da Igreja puseram-se a compendiar as verdades cristãs em sistemas, objetivando fortalecer cada ponto doutrinário. Conhecido como período dogmático, ou científico, mostrou-se este mui importante ao desenvolvimento de nossa teologia; foi exatamente nessa quadra da história da Igreja que surgiram as primeiras teologias sistemáticas.
A designação dos Pais da Igreja - Hoje, os Pais da Igreja são considerados, com justa razão, os maiores teólogos do cristianismo. Em seu tempo, porém, o título era reservado, exclusivamente, aos profetas hebreus e apóstolos de Nosso Senhor. Somente mereciam receber a vénia de teólogos os que se punham a salvaguardar a sã doutrina como Atanásio, Basílio e Gregório Nazianzeno.
Fonte
CPAD - Revista Manual do Obreiro n° 39 - Pr. Claudionor de Andrade