sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

PERSEVERANÇA E FÉ EM TEMPO DE APOSTASIA

Introdução: Para o autor de Hebreus, o “perfeito” é Jesus Cristo, nosso Sumo Sacerdote, o autor e consumador de nossa fé. No entanto, a parte judaizante do cristianismo primitivo começava deslocar o ensino e a crença do essencial para o circunstancial; do causal para o fenomenal; do central para o periférico, ressuscitando o ritualismo judaico: lavagens cerimoniais ( batismos ); bênçãos por imposição de mãos;  polêmicas teológicas estéreis sobre ressurreição de mortos; debates sobre o modo de operação do juízo final. Tais discussões não são dispensáveis ( v. 2), mas não devem tomar o lugar do que é fundamental à piedade cristã: a cristocentricidade da fé e a consciência do sumo sacerdócio do Filho. Crendo firmemente em Cristo, confiando a ele o destino de nossas almas, tudo mais é complementar, sendo alimentados pela certeza da esperança. Deve-se ter em mente que somos peregrinos neste mundo, mas em marcha para a Pátria Celeste sob a direção e cuidados do Sumo Sacerdote, que atua em nós pelo Espírito Santo. O legalismo exagerado dos judeus, que fizeram a lei o motor da soteriologia, devia ceder lugar ao cristocentrismo, à fé sem amuletos no Redentor de nossas almas.  O deslocamento do núcleo doutrinário para o periférico ainda acontece hoje: Alguns irmãos enfatizam o batismo; outros, o sábado; muitos, a imposição de mãos ( unção e batismo com o Espírito Santo ); considerável número centralizam a esperança nas bênçãos imediatas e na teologia dos prazeres sensoriais. Para esses, se o culto não for lúdico e prazeroso, não é “espiritual”. Nossa relação com o divino deve deixar claro que Deus é Senhor e nós somos seus servos; servindo-o submissamente, prestamos-lhe culto real, sincero e objetivo. Crente verdadeiro é aquele que é servo verdadeiro.  A vida cristã inclui doutrinas e práticas rituais como batismo, confissão, profissão de fé, imposição de mãos. Tudo isto, porém, sem fé em Cristo, não passa de ritualismo formal e vazio.  O perigo da apostasia – Hb 6.4-8.  O autor já nos havia advertido sobre o perigo da negligência ( Hb 2. 1-4 ) e do risco da desobediência ( Hb 3.7-12; 4.3-7). Agora, ele volta ao tema, para nos dizer que o apóstata é aquele que renega Cristo de maneira radical, contumaz. Tal negação pode ser por meio de confissão atéia, de crenças em outros deuses ou por intermédio de práticas deliberadas contrárias à vontade de Deus expressa nas Escrituras. Por exemplo: muitos israelitas que presenciaram as pragas do Egito; pintaram os umbrais de suas portas com o sangue do cordeiro pascal;  viram a morte dos primogênitos do Egito; atravessaram o Mar Vermelho; foram guiados por colunas de fogo e protegidos por uma densa nuvem; comeram o maná no deserto; beberam as águas de Mara e Elim ( Ex 15.27; Nm 33.9s; Ex 17.1-7; Nm 20.2-13 );    firmaram com Deus o pacto sinaítico e receberam a Lei; caíram. Apesar de serem beneficiários de todas essas bênçãos, foram desobedientes, renegaram a fé, perdendo o privilégio de entrarem na Terra da Promissão ( Nm 14.20-38 ). Como aconteceu àqueles israelitas, que provaram os mistérios da presença e atuação de Deus no meio de seu povo, que fizeram parte do Êxodo, mas tombaram por desobediência; pode acontecer o mesmo no Êxodo do novo povo de Deus sob o comando de Jesus Cristo. Vejam o que disse Deus a respeito deles: Nenhum dos homens que, tendo visto a minha glória e os prodígios que fiz no Egito e no deserto, todavia, me puseram à prova já dez vezes e não obedeceram à minha voz, nenhum deles verá a terra que, com juramento, prometi a seus  pais; sim, nem  um daqueles que me desprezaram a verá( Nm 14.22,23 ).  Uma pessoa pode ser batizada, tomar a Santa Ceia, ser partícipe da Palavra, integrar-se na adoração, incluir o filhos na Igreja, ser escolhido para liderança do povo de Deus e, no entanto, não ser eleito; vindo, mais tarde, a apostatar-se da fé, causando tristeza, ruína à comunidade e gerando conflito no corpo de Cristo. Um eleito regenerado não cai, mas um membro irremisso da Igreja pode cair; isto é, já estava caído, mas seus “irmãos” não sabiam. O réprobo cristianizado, que abandona a Igreja, a ela não retorna, até por imposição divina. Porém, o dano espiritual que causam ao corpo de Cristo é imensurável, comparável à tragédia da morte do Cordeiro, a uma recrucificação de Cristo aos olhos do mundo e ao coração da Igreja.  Alguns teólogos entendem que os “iluminados” são os “batizados”, porque “batismo” pode ser sinal de iluminação. O código Pesshitta Siríaco traduz: “ Aqueles que foram batizados” ( Pud. Simon Kistemaker in Hebreus.  Apostasia de crise – Hb 6. 4-8. Para melhor compreensão deste texto, devemos ressaltar que a Carta aos Hebreus foi escrita entre as duas mais perversas campanhas de perseguição da Igreja: a de Nero, em 64 d. C.; e  a de Domiciano, em 85 d. C. Insere-se neste período a Revolta Judaica e a queda de Jerusalém ( 67 a 70 d. C.). Foram tempos terríveis! Em  18 de julho de 64, houve o incêndio de Roma, certamente criminoso, que Nero atribuiu aos cristãos, tidos por inimigos da humanidade. Eles foram presos e, sob tortura, centenas negaram a fé em Cristo, escapando da morte física, mas transformando-se em apóstatas. Os que destemidamente confessaram fidelidade ao “Kyrius Christus”; foram lançados às feras nas arenas ou queimados em praça pública para servirem de iluminação aos espectadores, dentre os quais estava o próprio imperador2. Os confessantes, em decorrência da confissão, perdiam suas vidas de maneira crudelíssima. Os covardes, os renegadores da fé cristã, sobreviviam, sendo posteriormente rejeitados pelos descendentes dos mártires, cuja fé confessada sustentou a Igreja durante as perseguições. Foi, pois, neste contexto histórico, que o autor de Hebreus levantou a questão da apostasia, que não era apenas suposição, uma possibilidade, mas um quadro historicamente real, crudelissimamente verdadeiro.  Elogios aos fiéis – Hb 6. 9-12.  Apesar da maneira dura de falar, o autor mostra que ama seus irmãos sinceros e persistentes na fé, desejando-lhes firmeza constante para permanecerem até o fim. Deus, por outro lado, está sempre com seus eleitos fiéis, garantindo-lhes a possessão eterna e sustentando-lhes a esperança na peregrinação dolorosa desta existência.  A infalível esperança – Hb 6.13-29.  A promessa feita a Abraão foi confirmada e selada por juramento do próprio Deus, pois não havia ninguém maior do que ele em cujo nome jurar. O juramento conferiu à promessa irrevogabilidade e imutabilidade, de modo que os herdeiros da fé estão firmes, não por si mesmos, mas por Deus.   As duas coisas imutáveis sobre as quais é impossível que se minta são: a imutável promessa divina e o imutável juramento, ficando o pacto da graça prometida inderrogável ( v.18).  A âncora da esperança – Hb 6.18-20.  A esperança, um magnífico dom de Deus aos seus redimidos, é que sustenta o batel de nossa vida no mar revolto deste mundo. Pela esperança penetramos, na pessoa do Sumo Sacerdote, além do véu, isto é, no Santo dos Santos celeste, onde ele entrou e permanece. O elo, pois, que nos liga ao eterno mantém-se e é inquebrável, segundo a misericórdia de Deus. Estamos ancorados em Cristo Jesus, tempestade nenhuma fará naufragar. O Dr. Phineas F. Bresee usou estes versículos como base de seus estudos expositivos e doutrinários. Deixou claro que não apenas revelam a perfeição cristã no que se refere ao padrão normal de experiência cristã, mas também o alto nível de vida que deve caracterizar homens e mulheres santos. Apresentamos a seguir um resumo de seus pareceres sobre a controvertida passagem; pareceres que os nossos estudos posteriores confirmam integralmente.
1. Iluminação e despertamento - Isto é o que ele considerava a obra do Espírito, concedida incondicionalmente a todos como resultado da expiação universal.
2. O dom da vida eterna - Este é o dom da vida eterna concedido aqueles que uma vez foram iluminados, e provaram o dom celestial (Hb 6.4). As Escrituras são claras a respeito disto. É a regeneração ou o que se chama comumente conversão.
 3. Ser participante do Espírito Santo (Hb 6.4c) - Trata-se da vinda do Espírito como Consolador em Seu poder de santificação.
4. Provar a boa palavra de Deus (Hb 6.5a) - A boa palavra de Deus refere-se à plenitude da vida, resultante da purificação do coração de todo pecado. E a vida de santidade que resulta do ato da santificação.
5. Os poderes do mundo vindouro (Hb 6.5b) - Estes poderes se referem às manifestações do Espírito em resposta à fé obediente do cristão. O precedente é relativo à natureza ou ao caráter da vida; estes, às atividades dessa vida.
6.0 perigo da apostasia - Quando aqueles que fizeram tais progressos, como os que são mencionados nas cinco proposições precedentes, desviam-se de Deus, torna-se impossível renová-los para o arrependimento. Por esta razão, de novo estão crucificando o Filho de Deus e expondo-o à afronta da morte no madeiro (Hb 6.6). Eles, portanto, rejeitam as misericórdias expiatórias manifestadas por Cristo na cruz, mediante as quais somente a salvação é possível.
Conclusão: Finalmente, a doutrina da perseverança é consistente com a liberdade humana quando a natureza da liberdade é devidamente entendida. A verdadeira liberdade só existe quando uma pessoa utiliza seu poder de escolha para se encaminhar em direção a santidade. Então o homem nunca é mais livre do que quando conscientemente escolhe aquela que é a vontade de Deus. 

FONTES DE PESQUISA:
A EXCELENCIA DA NOVA ALIANÇA EM CRISTO COMENTARIO EXPOSITIVO DE HEBREUS
COMENTARIO BIBLICO MOODY DE HEBREUS
DICIONARIO BIBLICO WYCLIFFE

PB. RINALDO SANTANA                                    


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Caro Visitante, seu comentário será apreciado e sua opinião respeitada, no entanto, este blog se reserva o direito de não publicá-la, caso a considere difamatória ou ofensiva.