Introdução: A carta de Tiago difere
das outras cartas do Novo Testamento pelo seu estilo, conteúdo e
apresentação. A carta demorou a ser incluída no cânon do Novo Testamento.
Quanto ao seu estilo,
Tiago omite, quase por completo, uma discussão teológica. Suas
pressuposições são ortodoxas. Seu estilo é direto e objetivo. Combate
pecados e atitudes que prejudicam a vida e o testemunho dos cristãos.
Apresenta o imenso valor de se viver segundo a sabedoria do alto, isto é, de
acordo com a revelação de DEUS.
O livro foi escrito
aproximadamente entre 10 e 15 anos após a morte de JESUS. O discipulado que
JESUS ordenou na Grande Comissão a seus seguidores para ensinar foi
obediência a tudo que ele mesmo tinha passado para eles. Não nos surpreende
descobrir que há doze nítidos paralelos entre o Sermão do Monte e Tiago (cf.
Bíblia Almeida Século 21, p. 1238). Por isso, muito daquilo que vemos aqui
podemos sentir as palavras de JESUS, como pano de fundo, temperando as
palavras de Tiago. Mas além de ter JESUS como sua fonte, Tiago é um dos
livros que mais tem referências diretas ou indiretas aos livros do Antigo
Testamento. E dos 39 livros que completam o Antigo Testamento, ele faz algum
tipo de referência a pelo menos 22 livros.
E quem era Tiago? Esse
nome pertencia a vários personagens do Novo Testamento. O primeiro mártir da
igreja foi Tiago, o irmão de João, filho de Zebedeu. Tiago, filho de Alfeu
se encontra na lista dos discípulos de JESUS, mas o Tiago que se destaca era
coluna da igreja de Jerusalém (G12.9). Esse último Tiago está incluído na
lista dos irmãos de JESUS (Mc 6.3; Mt 13.55). Foi chamado por Paulo como “apóstolo”
em Gálatas 1.19. O CRISTO ressurreto apareceu a Tiago (1 Co
15.7). No concilio de Jerusalém (49 d.C), ele teve
papel importante como bispo dessa igreja (At 15.13-21), sugerindo o envio da
carta recomendando quatro abstenções que os crentes gentios deveriam
observar (v. 20).
Os destinatários dessa
carta foram as doze tribos dispersas entre as nações. Havia colônias de
judeus em muitas cidades do império, e em algumas delas havia cristãos
judeus, como sabemos que era o caso em Roma. Foram os distúrbios provocados
por um “ Chrestos’ (muito provavelmente, CRISTO), segundo o historiador
Suetônio, que levaram o imperador, Cláudio, a expulsar os judeus da capital
no ano 48 d.C. (At 18.2).
Os destinatários eram
evidentemente judeus convertidos a CRISTO e prosélitos que, naquela época, viviam
dispersos por todo o mundo conhecido. A descrição deles como
“as doze tribos dispersas entre as nações” reflete a maneira pela qual os
escritores judeus falavam do Israel escatológico, uma vez que deixaram de
existir as tribos do norte quando foram misturadas com o mundo gentio.
Como vemos em Atos, no
episódio do Pentecostes da descida do ESPÍRITO SANTO, vários judeus estavam
vindo de diversas partes para Jerusalém, e esses judeus eram conhecidos como
o povo da dispersão. provável também que Tiago esteja fazendo uma referência
espiritual a essas pessoas. Ou seja, ele está escrevendo para o Israel de
DEUS que hoje é a igreja de JESUS.
Segundo Josefo, Tiago
foi martirizado no ano 62 d.C. Nesse caso, a data de origem dessa carta
teria que ser anterior. Pelas condições refletidas na carta, podemos
identificar as regiões costeiras da Palestina e Síria, (em 5.7, há uma
referência às chuvas do outono e da primavera, características daquela
região) e dos que viviam luxuosamente da terra (5.5), latifundiários,
frequentemente ausentes. Por isso, não devemos estar longe da verdade se
atribuirmos essa carta a Tiago, irmão de JESUS e líder da igreja de
Jerusalém.
Como Tiago não toca na
controvérsia que os judaizantes provocaram e que desembocou no Concilio de
Jerusalém (49 d.C), podemos sugerir a data de 45-47 d.C. (cf. Douglas Moo,
Tiago, Edições Vida Nova, 1990; pp. 33,34).
Russell P.
Shedd,. Edmilson F. Bizerra.
Uma Exposição De Tiago A
Sabedoria De DEUS.
Editora Shedd Publicações.
A carta de Tiago se
parece com um memorando de segunda-feira de manhã em uma organização. Desde
o início, ele espera que os seus leitores coloquem a sua fé em ação. Os seus
desafios não têm data.
Tiago trata de questões
práticas que são tão comuns como o jornal desta manhã. A fé que os cristãos
afirmam ter deve ser demonstrada em todas as situações e circunstâncias da
vida — no trabalho, em casa, no bairro, na igreja. As provações e
dificuldades não devem ser encaradas como obstáculos à fé, mas como
oportunidades para colocar em prática uma fé saudável. Não basta conhecer a
Palavra de DEUS. Este conhecimento deve ser aplicado às nossas vidas
diariamente. A fé verdadeira é a aplicação da verdade de DEUS a nós mesmos.
Comentário do Novo
Testamento Aplicação Pessoal.
Editora CPAD. Vol 2. pag. 649.
A carta de Tiago é um
livro prático.
Esse livro é considerado
o livro de Provérbios do Novo Testamento. Tiago é mais pregador que
escritor. É como se ele nos agarrasse pela lapela, fitasse-nos os olhos e
falasse conosco algo urgente. Um dos grandes problemas que a igreja estava
enfrentando era colocar em prática aquilo que eles professavam. A vida
estava divorciada da teologia. Esse também é o problema da igreja
contemporânea. Daí, a pertinência e a urgência de estudarmos Tiago.
O tema central de Tiago
é: o nascimento (1.13-19a), o crescimento (1.19b-25) e a maturidade do cristão(1.26
- 5.6). Através das provas, pela paciência, recebemos a coroa.
A primeira ênfase de
Tiago é sobre o novo nascimento (1.13-19a). Embora a velha natureza
permaneça ativa (1.13-16), o Pai nos trouxe ao novo nascimento pela Sua
Palavra (1.17-19a). A segunda ênfase é sobre o crescimento espiritual
(1.19b-25). Nós crescemos pelo ouvir (1.19), receber (1.21) e obedecer
(1.22-25) a Palavra. A terceira ênfase é sobre a maturidade espiritual (1.26
- 5.6).
Há três notáveis
desenvolvimentos que são característicos da verdadeira maturidade cristã:
1)
O controle da língua (1.26); 2) O cuidado dos necessitados (1.27a); 3) A
pureza pessoal (1.27b).
Por que Tiago escreveu
esta carta? Para resolver alguns problemas:
1) Eles estavam passando
por duras provações;
2) Eles estavam sendo
tentados a pecar;
3) Alguns crentes
estavam sendo humilhados pelos ricos, enquanto outros estavam sendo roubados
pelos ricos;
4) Alguns membros da
igreja estavam buscando posições de liderança;
5) Alguns crentes
estavam falhando em viver o que pregavam;
6) Outros crentes
estavam vivendo de forma mundana;
7) Outros não conseguiam
dominar a língua;
8) Outros estavam se
afastando do Senhor;
9) Havia crentes que
estavam vivendo em guerra uns contra os outros.
Esses são os mesmos
problemas que enfrentamos hoje.
Para Tiago, a raiz de
todos esses problemas era a imaturidade cristã.
LOPES. Hernandes Dias.
TIAGO
Transformando provas em triunfo.
Editora Hagnos. pag. 11-13.
I – AUTORIA, LOCAL, DATA E DESTINATÁRIOS
1. Autoria.
Comecemos nosso breve
estudo pela questão da autoria desta Carta. O nome Tiago não era incomum nos
dias de JESUS, e no Novo Testamento ocorrem ao menos quatro citações a
pessoas que tinham esse nome:
1- Tiago, pai de Judas
(Lc 6.16);
2- Tiago, filho de
Zebedeu e irmão de João;
3- Tiago, filho de Alfeu.
Há estudiosos que o identificam como Tiago, o pequeno, filho de Maria (Mc
15.40).
4- Tiago, irmão do Senhor.
Esta tem sido a teoria mais corrente em relação à autoria desta Carta. Paulo
o destaca como apóstolo (G1 1.19), um homem que era considerado um dos
pilares da igreja.
A Igreja Cristã tem tido em Tiago, o irmão de JESUS
e bispo em Jerusalém, o autor dessa carta que atravessou os séculos e até
hoje fala com toda a igreja.
Data
A carta de Tiago já
recebeu diversas propostas de datação. Esta tem sido determinada por alguns
especialistas como tendo sido escrita em 45 ou 62 d.C. Os argumentos orbitam
da seguinte forma para se deduzir que foi escrita em um desses períodos.
Conforme Josefo, o martírio de Tiago ocorreu em 62 d.C, portanto, ele teve
de escrever antes desse período sua carta. A epistola não faz menção sobre a
controvérsia de judeus e cristãos entre os anos 50 e 60. Como relata o livro
de Atos, Tiago foi o chamado “moderador” do Concílio de Jerusalém, evento
que provavelmente teria sido realizado o ano 50 d.C. e que discutiu a
chegada de gentios no seio da igreja cristã. E há estudiosos que entendem
que como a Carta de Tiago não cita o apóstolo Paulo, é provável que Tiago
escreveu sua Carta antes de Paulo ter sido considerado um obreiro de
destaque.
Alexandre Coelho e Silas
Daniel. Fé e Obras, Ensinos de Tiago para uma Vida Cristã
Autêntica. Editora CPAD. pag. 13-15.
A. Autoria
O autor identifica-se
somente como “Tiago, servo de DEUS e do Senhor JESUS CRISTO” (1.1). Havia
vários homens importantes no Novo Testamento que se chamavam Tiago. No
entanto, há uma forte evidência, defendida por muitos estudiosos da Bíblia,
de que o autor era o líder da igreja em Jerusalém (At 15.13). Paulo se
refere a ele como “Tiago, irmão do Senhor” e o inclui entre os “apóstolos”1
(G11.19). Em Gálatas 2.9, ele caracteriza Tiago como um dos “pilares” da
Igreja.
Este Tiago é mencionado
duas vezes nos evangelhos (Mt 13.55; Mc 6.3). Nas duas passagens ele é
identificado como um dos irmãos de JESUS. Ele somente se tornou um seguidor
do nosso Senhor após a Ressurreição. Ele estava entre os discípulos
primitivos que, no cenáculo, esperavam pela descida do ESPÍRITO SANTO e
“perseveravam unanimemente em oração e súplica” (At 1.14).
A habilidade e fé de
Tiago logo o colocaram num lugar de proeminência entre os cristãos
primitivos. Quando Pedro deixou a Palestina (At 12.17), tudo indica que
Tiago assumiu a liderança da igreja de Jerusalém. Três anos após a conversão
de Paulo, ele visitou os líderes de Jerusalém e lá viu “Tiago, irmão do
Senhor” (G11.19). Em Atos 15, na assembleia que discutia a admissão dos
gentios na Igreja, Tiago era o ministro que presidia a reunião. Na mesma
visita a Jerusalém, “Tiago, Cefas e João” estenderam a destra da comunhão a
Paulo e Barnabé (G1 2.9). Na sua última visita a Jerusalém, quando Paulo
apresentou seu relatório, “Tiago, e todos os anciãos vieram ali” (At 21.18).
De um homem nessa
posição de responsabilidade e autoridade haveríamos de esperar uma carta
pastoral de conselhos práticos concernentes a questões que afetavam a vida
espiritual da Igreja. E isso que encontramos nesta epístola.
A. O Autor, 1.1
As cartas no primeiro
século geralmente iniciavam com o nome do autor, seguido pelo nome do
receptor e uma fórmula de saudação na mesma ordem que aparecem nesta carta.
O autor identificou-se simplesmente como Tiago. Provavelmente, nenhuma outra
explicação era necessária para os cristãos daquela época. Eles logo
compreendiam tratar-se de Tiago de Jerusalém, o reconhecido líder da Igreja.
(Veja Int., “Autoria”).
B. As Credenciais do
Autor, 1.1
Com um verdadeiro
espírito cristão, Tiago apresentou-se aos seus leitores, não como o líder da
Igreja, mas como servo de DEUS e do Senhor JESUS CRISTO. O termo servo (doulos)
é literalmente um servo cativo ou escravo. O termo escravo era entendido
quando usado em relação ao homem. No entanto, quando esse termo era usado em
relação a DEUS, os leitores judeus compreendiam tratar-se de um adorador.
Às vezes trata-se de
maneira negativa o fato de CRISTO ter sido mencionado somente três vezes
nesta epístola (1.1; 2.1; 5.8). Pode-se supor que a razão não era um
desinteresse por parte de Tiago, mas sim que os leitores cristãos conheciam
o fundamento da sua mensagem. Em todo caso, há uma evidente declaração da
suprema lealdade cristã na frase de abertura do apóstolo. Servo de DEUS era
uma frase comum do Antigo Testamento. Tiago acrescenta a ela a dimensão
distintamente neotestamentária — um adorador do Senhor JESUS CRISTO. O autor
desta carta é um homem que serve a DEUS e aceita a divindade de JESUS.
A. F. Harper.
Comentário Bíblico Beacon. Editora CPAD. Vol. 10. pag. 147, 152-153.
O AUTOR
Não se tem notícia de que na igreja antiga
também tenha sido citada outra pessoa além de Tiago, irmão do Senhor.
Dentre os portadores
do nome Tiago no NT dificilmente outra pessoa além do irmão do Senhor
poderia ser cogitada como autor da carta. “Tiago, servo de DEUS e do Senhor JESUS
CRISTO”. Somente o irmão do Senhor pode ser considerado
como possível autor dentre todos os portadores do nome Tiago citados no NT.
1 – Pedro escreveu sua
primeira carta “por meio de Silvano, o fiel irmão” (1Pe 5.12). Portanto é
possível que também Tiago, líder da primeira igreja em Jerusalém, tenha mandado escrever sua carta dirigindo-se a igrejas de
outros países, que devem ter sido constituídas principalmente por cristãos
judeus estrangeiros de fala grega, valendo-se dos préstimos de um cristão
judeu de fala grega em Jerusalém (posição de Wilhelm Michaelis: Einleitung
in das NT, 1946, BEG-Verlag, Berna), o qual conhecia com exatidão a forma de
pensar dos destinatários. Não era pequeno o grupo desses cristãos judeus em
Jerusalém (At 6.1). A maioria dos chamados “diáconos”, liderados por
Estêvão, podem ter sido escolhidos do seio desse grupo. Todos os diáconos
tinham nomes gregos. Na verdade a carta de Tiago foi escrita em grego
fluente no tocante ao idioma, mas traz um modo de pensar hebraico em seu
conteúdo e se compara com coletâneas de sabedoria do AT e do judaísmo. –
A carta, que comunica às
igrejas a decisão do “concílio dos apóstolos” (At 15.23ss) , contém a mesma
saudação helenista que não ocorre em mais nenhum lugar do NT e que no grego
também consta em Tg 1.1. Essa carta possivelmente foi concebida por Tiago,
que conforme At 15, apresentou a correspondente sugestão de acordo. Talvez
nesse caso também tenha trabalhado o mesmo intérprete e escrevente que
colaborou com a redação da carta de Tiago. Alguns pesquisadores também
opinam que seus primeiros destinatários (cf. também a comunicação em At
15.23) tenham sido igrejas na Síria e Cilícia.
No tocante ao
conteúdo e à forma, a carta de Tiago possui fortes semelhanças com o Sermão
do Monte e outras pregações de JESUS (cf., p. ex., Tg 1.22 com Mt 7.21,26;
Tg 2.10 com Mt 5.19; Tg 2.13 com Mt 5.7; Tg 3.18 com Mt 5.9; Tg 4.5 com Mt
6.24; Tg 4.12 com Mt 7.1; Tg 5.2 com Mt 6.19; Tg 5.12 com Mt 5.34,37. – Cf.
também a posição semelhante de JESUS e Tiago em relação a pobres e ricos, Lc
6.24s; 16.19-25; Tg 5.1-6). Como aquelas, a carta se assemelha à forma de
exposição da sabedoria proverbial do AT. Isso permite supor que a carta
também surgiu em um momento cronologicamente próximo à proclamação de JESUS.
Vários exegetas, como Adolf Schlatter, Gerhard Kittel e Wilhelm Michaelis,
suspeitam que a carta de Tiago seja um dos escritos mais antigos do NT.
Como será demonstrado no
comentário sobre Tg 2.14ss, esse trecho da carta contém uma controvérsia
apenas aparente com a teologia do apóstolo Paulo. O conceito decisivo
“obras” possui significados diferentes em Tiago e em Paulo. As palavras da
carta de Tiago também podem estar discutindo com um orgulho generalizado
pela posse da verdade, um orgulho não disposto a obedecer a essa verdade. E
podem combater o equívoco de transformar a graça que nos foi propiciada e
anunciada por JESUS, como também é expressa nos evangelhos (Lc 15.22-24;
18.14; 23.43; Jo 8.11), em motivo de acomodação. A graça e o ESPÍRITO de
DEUS, bem como a obra redentora de JESUS CRISTO, não visam gerar filhos
desobedientes, mas obedientes a DEUS.
Possivelmente Tiago,
o irmão de JESUS, já tenha escrito a carta antes que a controvérsia em torno
da lei cultual e ritual tenha ficado bem evidente. Consequentemente, Tiago
poderia ter anunciado, como seu Senhor e Mestre JESUS CRISTO, sobretudo a
vontade de DEUS que nos compromete eticamente, assim como também já fizeram
os profetas do AT. Também JESUS só falou detalhadamente a respeito das leis
cultuais e rituais depois que isso se tornou imperioso devido ao conflito
com os fariseus e escribas. Se Tiago era “servo de JESUS CRISTO” (Tg 1.1),
deve-se supor que também para Tiago, assim como para seu Senhor, importava
acima de tudo a vontade de DEUS que compromete eticamente toda a nossa vida.
Até mesmo se Tiago
tivesse escrito somente depois da reunião dos apóstolos relatada em At 15,
em que ele mesmo sugeriu o acordo, a questão deve ter ficado clara tanto
para ele como para as igrejas às quais a decisão foi comunicada, e que
possivelmente também foram as primeiras destinatárias desta carta. Logo, não
havia mais necessidade de abordar a questão.
Talvez várias pessoas
considerassem a carta de Tiago como sendo um escrito das igrejas cristãs
judaicas que se isolaram fortemente em relação às demais, sobretudo da
igreja cristã gentílica, e cujos escritos não constavam da tradição geral do
primeiro cristianismo.
Consideramos muito
provável que a presente carta seja de autoria do Tiago irmão do Senhor
(posições de Adolf Schlatter, Gerhard Kittel, Wilhelm Michaelis, Kurt Hennig,
Walter Warth). O único líder cristão conhecido no primeiro cristianismo que
se chamava Tiago era Tiago, o irmão do Senhor. O autor da carta cita somente
seu nome. Ele sabe que é conhecido. Com singeleza e naturalidade a carta
advoga para si a necessária autoridade. Se, p.ex., outra pessoa, de época
posterior, tivesse pretendido escrever sob o nome do irmão do Senhor – como
supõem vários – ele com certeza teria se intitulado expressamente de “irmão
do Senhor”. Precisamente essa singela indicação de autoria depõe de forma
decisiva em favor do conceito de que de fato não se trata de outra pessoa
que não Tiago, o irmão do Senhor.
Contudo, a questão da
autoria por parte do irmão do Senhor com certeza não é determinante, ainda
mais porque nem a própria carta levanta tal reivindicação. Afinal, cremos no
Senhor testemunhado e em sua palavra, não nas testemunhas.
A vida de Tiago,
irmão do Senhor
Uma vez que consideramos
plausível a autoria de Tiago, o irmão do Senhor, apresentemos aqui algumas
coisas sobre sua vida:
1 – Tiago, meio-irmão de
JESUS tinha mais três irmãos
mais novos: José, Simão e Judas (Mt 13.55) e no mínimo mais duas irmãs (em
Mt 13.56 a palavra ocorre no plural).
No início Tiago não creu
em JESUS. Depois que eclodiu o conflito entre JESUS e o poderoso partido dos
fariseus, bem como com os influentes escribas, sua família quis trazê-lo
para casa: “Saíram para o prender; porque diziam: Está fora de si!” (Mc
3.21). Os irmãos tentavam proteger
JESUS e toda a família da vergonha do apedrejamento ou da cruz. Também
tinham convencido Maria, a mãe, a ir com eles (Mc 3.31ss). – Contudo, os
irmãos certamente também tinham esperança de que junto de seu irmão mais
velho, que flagrantemente era uma pessoa especial, também poderiam ser
pessoalmente engrandecidos. Por isso o desafiaram a não apenas mostrar seu
poder milagreiro no recôndito da Galiléia, mas no grande “palco” de
Jerusalém e da festa dos tabernáculos. Talvez tivessem esperança de que
agora ele finalmente se manifestasse como o Messias (Jo 7.3s). Nessas duas
iniciativas, que Tiago, o mais velho depois de JESUS, deve ter liderado,
percebe-se que os irmãos de JESUS pensavam de forma tipicamente humana,
“porque também seus irmãos não criam nele” (Jo 7.5).
2 – Após a Páscoa,
porém, aconteceu a grande mudança na vida de Tiago. O Senhor ressuscitado
lhe aparecera (1Co 15.7). Não existe nenhum relato detalhado acerca deste
encontro no NT, assim como tampouco sobre o primeiro encontro de Pedro com o
Senhor ressuscitado (1Co 15.5; Lc 24.34).
Agora Tiago, sua mãe e
os irmãos se associam ao grupo dos apóstolos (At 1.14). Em breve ele teria
uma posição de liderança na primeira igreja, a congregação cristã judaica de
Jerusalém. Isso se nota pela menção expressa de Tiago em At 12.17, onde
Pedro se despede da igreja de Jerusalém. Também Gl 1.19 cita Tiago como um
dos homens decisivos em Jerusalém.
A importância de Tiago
evidenciou-se especialmente pela forma como cooperou no “concílio dos
apóstolos” (At 15). Propôs o acordo decisivo a ser celebrado entre os
cristãos judeus e gentílicos (At 15.13-21). Esse acordo não excluía tensões
ocasionais. Elas não se manifestaram entre Paulo e Tiago, mas entre Paulo e
os adeptos de Tiago (Gl 2.9,12). No relevante esforço de encontrar o caminho
certo para o novel cristianismo, que se desenvolvera a partir de um grupo no
seio do judaísmo até tornar-se uma entidade independente, Tiago defendia, no
convívio entre cristãos judeus e gentílicos, particularmente os interesses
dos grupos judaicos. Seu coração batia intensamente em favor da obediência
séria à santa e salutar vontade de DEUS já revelada no AT. Isso se torna
visível também na presente carta, o que depõe em favor da autoria do irmão
do Senhor.
3 – No contexto externo
à Bíblia há informações de que Tiago viveu ainda até a década de sessenta do
primeiro século em Jerusalém, sendo chamado pelos judeus de “justo”: também
como cristão ele teria cumprido com grande fidelidade a lei do AT, orando e
jejuando intensamente. Isso lhe teria rendido entre o povo um respeito tão
grande que, ao contrário de outros líderes cristãos, conseguiu se manter em
Jerusalém durante toda uma geração.
A respeito da morte de
Tiago, irmão do Senhor, há dois relatos extrabíblicos que concordam no fato
de que ele sofreu o martírio: o historiador judaico Josefo informa que Tiago
teria sido entregue ao apedrejamento pelo sumo sacerdote Anás II depois do
falecimento do governador Festo e antes da chegada de um novo governador
romano (ou seja, durante um interregno, que lhe propiciou certa liberdade de
manobra) no ano de 62 (Josefo descreveu a guerra judaico-romana – 66-70 d.C.
– e faleceu por volta de 100 d.C.). O escritor cristão Eusébio (séc. IV),
porém, reproduz um informe de Hegésipo, do séc. II, segundo o qual Tiago,
pouco antes de eclodir a guerra judaico-romana no ano de 66, foi lançado do
pináculo do templo por uma multidão furiosa, instigada pelos fariseus e
escribas, e trucidado com uma clava. Estava eliminado o homem cujo serviço
sacerdotal de intercessão por Israel havia detido a desgraça. Esta seguiu
seu curso.
Fritz Grünzweig.
Comentário Esperança Carta De Tiago. Editora Evangélica Esperança.
2. Local e Data.
Tiago escreveu esta
carta aproximadamente entre 47 e 49 d.C.
Há diversas razões para
crer que a carta de Tiago tenha sido escrita no início da vida da igreja.
• Tendo Tiago, o irmão
de CRISTO, como seu autor, a carta teria que ter sido escrito antes de 62
d.C., ano do martírio de Tiago, de acordo com Josefo.
• A carta não menciona a
controvérsia sobre judeus e gentios dos anos 50 e 60. Lembre-se de que Tiago
foi o moderador do Concilio de Jerusalém, reunido para debater esta questão
(At 15). Supõe-se que este concilio tenha sido realizado aproximadamente no
ano 50 d.C. Paulo passou muito tempo comentando o problema dos judaizantes
nas suas cartas.
• Esta carta não faz
menção ao apóstolo Paulo ou alusões aos seus escritos. Portanto, é provável
que ela tenha sido escrita antes que Paulo atingisse grande proeminência na
igreja.
• Tiago não fala a
respeito dos falsos ensinos, outra questão posterior na igreja e um tema
importante nos escritos de Paulo, Pedro, Judas e João. A carta de Tiago foi
escrita após a morte de Estêvão (35 d.C.), a perseguição que fez com que
muitos crentes de Jerusalém fugissem para salvar suas vidas, a conversão de
Paulo (35 d.C.), e a morte de Tiago, o apóstolo (44 d.C.).
Ela foi escrito antes do
Concílio de Jerusalém (50 d.C.), da segunda e terceira viagens missionárias
de Paulo (50-52 d.C. e 53-57 d.C.), do aprisionamento final e do martírio de
Paulo (aproximadamente 67 d.C.), e da destruição de Jerusalém, por Tito (70
d.C.).
Alguns defendem uma data
posterior e outro autor, devido à excelente qualidade do idioma grego usado
no livro. A língua-mãe de Tiago seria o aramaico, e ele provavelmente não
teria sido fluente em um bom grego helênico. É possível, no entanto, que
Tiago, como Paulo (veja Cl 4.18), usasse um “secretário” para traduzir as
suas palavras para o grego, a língua do mundo comercial e a escolha
apropriada para alcançar os que estavam espalhados pelo mundo inteiro.
Tiago escreveu a
cristãos judeus do século I. Ele também escreveu a nós, hoje, que também
estamos “dispersos entre as nações”. Embora separados por aproximadamente
vinte séculos, as necessidades são praticamente as mesmas, e a mensagem de
Tiago ainda precisa ser ouvida e aplicada.
Comentário do Novo
Testamento Aplicação Pessoal.
Editora CPAD. Vol 2. pag. 651-652.
Não há evidência na
epístola ou de fontes externas que ajudem a determinar exatamente a
data em
que foi escrita esta carta. Alguns estudiosos conservadores argumentam
que
esta carta pode ter sido escrita em 45 d.C., outros já acreditam que
ela foi
escrita em 62 d.C. As datas mais precoces se baseiam no fato de que na
epístola o autor não faz nenhuma menção do problema da admissão de
gentios
na Igreja. Sabemos que Tiago estava profundamente preocupado com esta
questão numa época posterior. Aqueles que propõem uma data posterior
ressaltam a condição relativamente estabelecida da Igreja refletida na
epístola. Tiago não parece estar muito preocupado em colocar os
fundamentos
e ressaltar doutrinas evangélicas para uma Igreja que está dando seus
primeiros passos na fé. Isto favorece a ideia de a epístola ter sido
escrita
numa data posterior. Assim, o conteúdo sugere que esta carta foi
escrita
numa data posterior às cartas aos Gálatas e aos Romanos, nas quais
Paulo
tratou de assuntos doutrinários fundamentais. O aspecto-chave não é o
ano
exato, mas o período. Se, como tudo indica, Tiago foi martirizado em 63
d.C., a epístola obviamente foi escrita antes dessa data.
A. F. Harper.
Comentário Bíblico Beacon. Editora CPAD. Vol. 10. pag. 148.
Tiago, o Justo, foi a fonte dos sermões contidos na carta, o que significa
que o material pertence à época da vida de Tiago, a saber, antes de 62 d.C.
Além disso, Tiago 2:14-26 com toda a probabilidade teria sido composto como
uma unidade antes de Tiago ter tido a oportunidade de conversar com Paulo
sobre as doutrinas características do apóstolo. Isso faz que a data desta
parte da carta recue para antes de 49 d.C., pelo menos. Todavia, essa data é
satisfatória para qualquer parte da carta, visto que a igreja por essa época
tinha mais de quinze anos de existência, isto é, ela teria idade suficiente
para apresentar quaisquer dos problemas descritos por Tiago. Na verdade, a
década de quarenta foi uma época de escassez econômica em Jerusalém,
circunstância que se encaixa na insegurança financeira e na vulnerabilidade
que a igreja de Tiago está experimentando. Assim, é provável que grande
parte do material da carta se tenha originado em meados da década de
quarenta, tendo circulado oralmente, ou em tradução grega tosca, durante uma
década mais ou menos, antes de chegar à sua forma final.
A segunda etapa do
trabalho, a versão final para publicação, é mais difícil de datar. Seria com
toda a probabilidade anterior a 66 d.C., visto que a fuga da igreja para
a Europa teria posto um fim na continuidade de contatos com Jerusalém, e Tiago,
o Justo, precisava coligir as tradições. É difícil saber quantos anos antes
isso ocorreu.
É muito provável que a
morte de Tiago tenha motivado fortemente a redação da carta, visto que,
tendo silenciado aquela voz poderosa, é certo que teria surgido o desejo, no
seio da igreja entristecida, de preservar seus ensinos para o verdadeiro
Israel — “às doze tribos da Dispersão” — a todo o povo de DEUS espalhado
pelo mundo. Isso explicaria também outros dois fatos: (1) o de Hermas ter
obtido uma cópia em Roma, por volta de 96 d.C., visto ter decorrido bastante
tempo entre 66 e 96 d.C., para que uma cópia chegasse aos judeus cristãos de
Roma, e (2) o fato de Tiago não ser mencionado senão por Orígenes, cerca de
256 d.C., porque uma obra judaico-cristã que não fosse útil numa
controvérsia doutrinária logo estaria um tanto esquecida pela igreja de
Jerusalém em exílio e, a seguir, em luta pela sua existência distintiva,
visto que a missão judaica entrou em colapso com a queda de Jerusalém em 70
d.C.
Russell P.
Shedd,. Edmilson F. Bizerra.
Uma Exposição De Tiago A
Sabedoria De DEUS.
Editora Shedd Publicações. pag. 24-25.
3. Destinatários.
O local da composição
As conclusões que
tiramos sobre a autoria e a data da carta praticamente determinam o local da
composição. Tiago viveu em Jerusalém durante este período e seus leitores,
provavelmente, se encontrariam em regiões imediatamente fora da Palestina,
junto à linha costeira para o norte, na Síria e, talvez, no sul da Ásia
Menor. Várias alusões na carta, principalmente a referência às “primeiras e
últimas chuvas” (5.7), parecem confirmar esta localização; pois apenas ao
longo da costa oriental do Mar Mediterrâneo é que as chuvas ocorrem nesta
seqüência.
As condições sociais
generalizadas no Oriente Próximo, na metade do primeiro século, também
correspondem à situação pressuposta em Tiago. Os comerciantes que andavam de
um lado para o outro em busca de lucro (4.13-17) e os senhores de terras,
freqüentemente absenteístas, que exploravam uma força de trabalho cada vez
maior e mais pobre (5.1-6), eram figuras bem conhecidas. Igualmente
familiares eram os sempre violentos e odiosos debates religiosos que parecem
ter infectado as igrejas que estavam sob os cuidados de Tiago (veja
3.13-4.3). O movimento zelote, que procurava alcançar a liberdade para
Israel usando meios violentos, estava se tornando cada vez mais influente.
De fato, alguns eruditos pensam que Tiago 4.2 — “cobiçais e nada tendes;
matais” — pode ser uma referência aos partidários do movimento zelote, os
quais haviam trazido para dentro da igreja sua ideologia violenta. Seja
isto verdade ou não, as condições sociais da Palestina e da Síria do
primeiro século certamente fornecem uma tela de fundo apropriada para a
carta de Tiago.
Douglas J. Moo.
Tiago.
Introdução e Comentário.
Editora Vida Nova. pag.
35-36.
Destinatários
O autor da carta indica
que seus destinatários são as 12 tribos que estão dispersas. Como os judeus
foram os primeiros convertidos à fé cristã, principalmente porque o
evangelho de JESUS foi primeiramente pregado a eles, e a Igreja Primitiva
teve sua origem em Jerusalém, não é difícil entender que esse escrito teria
sido inicialmente para eles, mas isso não exclui a possibilidade de os
gentios estarem sendo posteriormente incluídos nos sermões dessa epístola.
Essa referência é
claramente simbólica, se considerarmos que a estrutura tribal de Israel
havia cessado de ser um conjunto literal de doze tribos desde pelo menos a
conquista da Assíria do Reino do Norte em 722 a.C. A questão que se
apresenta, então, é: até que ponto Tiago estende aos seus leitores os
elementos metafóricos de sua designação? A interpretação mais “literal” da
saudação é que cópias dessa carta foram enviadas aos judeus (às “doze
tribos”) que estavam vivendo fora da Palestina (“dispersos entre os gregos”;
cf Jo 7.35). No entanto, levando em conta que a carta obviamente não
representa um tratado evangelístico destinado a converter os judeus ao
cristianismo, esse entendimento pode ser rapidamente excluído.
Os destinatários são
apresentados como já possuindo a fé em JESUS CRISTO (2.1) e, sendo assim, a
linguagem a respeito das “doze tribos” é geralmente aceita como simbolizando
a crença de que cristãos são agora o povo de DEUS, e formam o novo Israel ou
Israel espiritual.
Partindo dessa
orientação, podemos entender que os destinatários não eram apenas judeus,
mas igualmente gentios que se tinham chegado à fé em JESUS CRISTO e agora
fariam parte da igreja cristã.
Local - Jerusalém tem sido
considerada o local da confecção desta carta, apesar de ela mesma não trazer
qualquer indicação de que tenha sido escrita lá. A base para essa teoria
está mais vinculada à tradição da igreja. Pelo fato de essa carta ter
circulado primeiramente na Palestina, como registram alguns pais da igreja
como Orígenes, acredita-se que Jerusalém foi de fato a localidade de origem
dessa epístola.
Alexandre Coelho e Silas
Daniel. Fé e Obras, Ensinos de Tiago para uma Vida Cristã
Autêntica. Editora CPAD. pag. 15-16.
“As doze tribos que
andam dispersas” (1.1).
O cristianismo é judeu.
Isto pode parecer uma contradição, mas é verdade.
Maria, a mãe do nosso
Senhor, era judia, como também José era judeu. Sendo assim, JESUS foi criado
em um lar judeu. E no seu ministério público, JESUS dirigia-se primeiro aos
judeus, o povo escolhido de DEUS, chamando-os ao arrependimento e à fé.
Todos os doze discípulos originais eram judeus. O cristianismo iniciou-se no
Templo e na sinagoga, quando os judeus que procuravam encontravam o Messias.
Portanto, é bastante
natural que Jerusalém fosse o berço da igreja. Este é o lugar onde JESUS foi
crucificado e onde Ele ressuscitou e posteriormente ascendeu ao céu.
Em Jerusalém, o ESPÍRITO
SANTO encheu o primeiro grupo de crentes. E ali foi onde os apóstolos
ministraram. A igreja de Jerusalém teve um crescimento explosivo, com
milhares de pessoas respondendo positivamente ao Evangelho (At 2.41; 4.4;
5.14; 6.1,7). Os crentes encontravam-se nos pátios do Templo e nas suas
casas (At 5.42), adorando, comendo, aprendendo, e servindo juntos.
JESUS disse aos seus
seguidores que transmitissem a fé além de Jerusalém, “em toda a Judéia e
Samaria e até aos confins da terra” (At 1.8). No sermão do monte das
Oliveiras, JESUS predisse uma perseguição terrível e a destruição final de
Jerusalém (Lc 21.5-24) - JESUS sabia que os seus seguidores se espalhariam.
A perseguição começou pouco tempo depois da ascensão de JESUS. Quer estes
primeiros cristãos estivessem prontos ou não, muitos deles foram forçados a
se espalhar pelo império romano (At 8.1). Eles foram a Samaria e a lugares
tão distantes quanto Fenícia, Chipre, e Antioquia da Síria (At 11.19).
Os crentes espalhados
“iam por toda parte anunciando a palavra” (At 8.4) e, desta forma,
acrescentavam muitos novos convertidos à fé. Isto gerou uma necessidade de
acompanhamento, de instrução espiritual e de incentivo para os novos
crentes. Por exemplo, os apóstolos em Jerusalém enviaram Pedro e João a
Samaria, para avaliar o ministério de Filipe (At 8.14), e enviaram Barnabé a
Antioquia, por terem ouvido falar que os gregos estavam se convertendo ali
(At 11.19-22).
Naturalmente, os
seguidores de JESUS, o Messias, já estavam vivendo em muitas terras
estrangeiras, tendo vindo à fé no Pentecostes. Realizada cinquenta dias
depois da Páscoa, Pentecostes (também chamada Festa das Semanas) era uma
festa de ação de graças pela colheita. Todos os anos, judeus de muitas
nações reuniam-se em Jerusalém para esta celebração. De acordo com Atos
2.9-11, “partos e medos, elamitas e os que habitavam na Mesopotâmia, e
Judéia, e Capadócia, e Ponto, e Ásia, e Frigia, e Panfília, Egito e partes
da Líbia, junto a Cirene, e forasteiros romanos (tanto judeus como
prosélitos), e cretenses, e árabes” ouviram, em suas línguas nativas, a
mensagem que era cheia do ESPÍRITO. Eles também ouviram o poderoso sermão de
Pedro (At 2.14-41), e muitos vieram à fé em CRISTO. Ao voltar às suas casas,
estes novos convertidos tornaram-se uma equipe evangelizadora internacional.
Na verdade, é provável
que a igreja em Roma tenha sido fundada por aqueles que ouviram falar sobre
JESUS e creram nele em Jerusalém, por ocasião do Pentecostes.
Tiago, sendo o líder da
comunidade cristã de Jerusalém e o pastor de um rebanho disperso, escreveu a
este grande grupo de crentes judeus em CRISTO que estavam vivendo muito
longe dos muros de Jerusalém. Assim ele endereçou a sua carta; “Às doze
tribos que andam dispersas” (1.1). Pelo fato de esta carta ter sido escrita
no início da vida da igreja (antes das viagens missionárias de Paulo),
praticamente todos os crentes teriam sido judeus, mas esta é uma carta para
todos os cristãos, tanto judeus quanto gentios.
Tiago sabia o que estes
jovens crentes estariam enfrentando ao tentarem viver para CRISTO, longe dos
apóstolos e anciãos. Haveria provações e perseguições, similares àquelas que
tinham tirado muitos deles de suas casas. Haveria sofrimento.
Haveria tentações.
Haveria pressões. Tiago estava preocupado com que seus irmãos e irmãs
cristãos conseguissem perseverar.
Tiago também sabia que é
fácil voltar a velhos hábitos ou à neutralidade espiritual quando se é
afastado e cercado por aqueles que creem em outras coisas.
Assim, ele desafiou os
seus leitores a irem além de meras palavras e chegarem à ação — viver
segundo a sua fé.
Tiago também estava
preocupado com o corpo, a comunhão, e a igreja. Assim, ele advertiu a
respeito de discriminações e divisões e incentivou os crentes a tomarem
cuidado com as suas palavras, procurarem a sabedoria divina, serem humildes,
e orarem uns pelos outros.
Os leitores desta carta
do século teriam apreciado a abordagem direta e prática de Tiago. Ele foi
direto ao ponto, com respostas orientadas pelo ESPÍRITO, que eles tanto
necessitavam.
Comentário do Novo
Testamento Aplicação Pessoal.
Editora CPAD. Vol 2. pag. 654-655.
Os destinatários da
carta
Tg 1.1 diz que “as doze
tribos na dispersão” (em grego diáspora) são os destinatários (cf. 1Pe 1.1).
A carta de Tiago é uma
carta cristã, ainda que o nome de JESUS seja mencionado expressamente apenas
em duas ocasiões (Tg 1.1 e 2.1). Toda a carta está nitidamente impregnada do
espírito e da terminologia do Sermão do Monte (cf., p. ex., Tg 1.22 com Mt
7.21,26; Tg 2.10 com Mt 5.19; Tg 2.13 com Mt 5.7; Tg 3.18 com Mt 5.9; Tg 4.5
com Mt 6.24; Tg 4.12 com Mt 7.1; Tg 5.2 com Mt 6.19; Tg 5.12 com Mt
5.34,37). Igualmente se fala da vinda do Senhor (Tg 5.8), sendo que Tg 2.1
diz quem é o Senhor aguardado. Em Tg 5.14 a comunidade em questão é
necessariamente cristã. No grego consta ekklesia. Era assim que se chamavam
as igrejas cristãs, mas não as sinagogas judaicas. Logo, não pode tratar-se
de um escrito judaico. Mostra-se aqui a vida do grupo trazido ao lar divino
por JESUS, seu relacionamento entre si e perante o contexto em que vivia.
À semelhança de Pedro
e Paulo, também Tiago deve ter considerado a igreja de JESUS reunida dentre
Israel e as nações como o Israel da nova aliança, agora transposto para a
diáspora. Em decorrência, também nós cristãos dentre os gentios somos, ao
lado dos cristãos de Israel, os destinatários diretos da carta de Tiago.
Fritz Grünzweig.
Comentário Esperança Carta De Tiago. Editora Evangélica Esperança.
II – O PROPÓSITO DA EPISTOLA DE TIAGO.
1. Orientar Tg 1.27.
O que faz parte do culto
a DEUS. “Um culto puro e imaculado perante DEUS, o Pai, consiste em visitar
órfãos e viúvas em sua aflição e manter a si próprio incontaminado do
mundo”: DEUS nos presenteou com seu grande amor, dando-nos seu Filho
unigênito como irmão e tornando-se assim pessoalmente nosso Pai e a nós,
seus filhos (Rm 5.8; 1Jo 3.1). Agora tudo depende de que nós lhe agrademos,
como o Filho primogênito de DEUS (Mt 3.17). Duas coisas são citadas aqui
como partes integrantes do verdadeiro culto a DEUS: dirigir-se para dentro
do mundo e preservar-se diante do mundo.
“Visitar órfãos e viúvas
em sua aflição”: Tiago cita pessoas que naquele tempo eram especialmente
carentes de ajuda, bem como de proteção jurídica. Literalmente consta:
“olhar por eles”. Isso inclui o cuidado assistencial. Primeiramente ele
tinha em mente os co-cristãos na igreja, mas de forma alguma somente a eles
(Gl 6.10). É condizente com a intenção de nosso Senhor e vale como dirigido
a ele, quando nos dedicamos com toda energia, amor e fantasia às pessoas em
torno de nós, perto e longe, em vista de suas mais diversas carências (Mt
25.45; 18.5).
Uwe Holmer.
Comentário Esperança Cartas aos I Pedro. Editora Evangélica Esperança.
Tg 1.27. Precisamos ter
em mente que Tiago não está tentando aqui resumir tudo o que envolve a
verdadeira adoração a DEUS. Segundo Calvino, “ele não dá uma definição geral
de religião, mas nos lembra de que a religião sem as coisas que ele menciona
é nada...”. ritual religioso, se praticado com um coração reverente e num
espírito de adoração, não é errado — e a Palavra de DEUS não pode ser
“praticada” se primeiro não for “ouvida”. Mas Tiago está preocupado com uma
super-ênfase no “ouvir”, em detrimento da “prática”. Neste versículo são
apresentadas duas outras áreas da vida que devem revelar evidências de nosso
“ouvir” reverente da Palavra: preocupação social e pureza moral. O cuidado
pelos órfãos e as viúvas é uma ordem do Antigo Testamento como uma forma de
imitar o cuidado do próprio DEUS com estas pessoas — ele é o “pai dos órfãos
e defensor das viúvas” (SI 68.5; PIB). Num texto que apresenta muitas
semelhanças com esta passagem de Tiago, Isaías anuncia que DEUS não mais irá
aceitar a adoração que seu povo lhe oferece (a “religião” deles); eles
precisam “se lavar... aprender a fazer o bem; atender à justiça, repreender
o opressor; defender o direito do órfão, pleitear a causa das viúvas” (Is
1.10-17). O órfão e a viúva tornam-se tipos daqueles que se encontram
desamparados neste mundo. Os cristãos que professam uma religião pura irão
imitar seu Pai, intervindo para ajudar os desamparados. Aqueles que passam
necessidade no Terceiro Mundo, nas cidades; aqueles que estão desempregados
e sem dinheiro; aqueles que são precariamente representados no governo ou na
justiça — estas são as pessoas que deveriam ver abundantes evidências da
“religião pura” dos cristãos.
A pureza moral é outra
marca da religião pura. O guardar-se incontaminado do mundo significa evitar
que pensemos e ajamos de acordo com o sistema de valores da sociedade que
nos cerca. Tal sociedade reflete amplamente crenças e práticas não-cristãs
ou, quem sabe, ativamente anticristãs. O cristão que vive “no mundo” corre o
constante perigo de ter sobre si a mácula do sistema. É importante e
instrutivo o fato de Tiago incluir esta última área, pois ela penetra além
da ação, chegando às atitudes e crenças das quais a ação brota. A “religião
pura” do “cristão perfeito” (v. 4) associa a pureza de coração à pureza de
ação.
Douglas J. Moo.
Tiago.
Introdução e Comentário.
Editora Vida Nova. pag.
86.
Tg 1:27 - Em contraste
com o crente piedoso, cuja língua é todavia afiada, a religião que nosso
DEUS e Pai considera pura e imaculada não é primordialmente ritualística,
feita de hábitos piedosos, mas a que procura visitar os órfãos e as viúvas
nas suas aflições e guardar-se incontaminado do mundo. A primeira
característica, a da caridade e do interesse ativo pelos indefesos e fracos,
com freqüência é mencionada no Antigo Testamento (Deuteronômio 14:29;
24:17-22), bem como no Novo (Atos
6:1-6; 1 Timóteo 5:3-16). Os órfãos e as viúvas, ao lado dos estrangeiros e
dos levitas, constituíam os pobres dentre o antigo Israel. A verdadeira
piedade, portanto, vai ajudar os fracos e os pobres, porque DEUS é quem
sustenta os oprimidos e indefesos (Deuteronômio 10:16-17).
A segunda característica
centraliza-se no mundo, designação comum em Paulo e em João para a cultura,
os costumes e as instituições humanas (1 Coríntios 1- 3; 5:19; Efésios 2:2;
João 12:31; 15:18-17; 16; 1 João 2:15-17). A verdadeira piedade não é
conformação à cultura humana, mas a transformação à imagem de CRISTO
(Romanos 12:1-2). Para Tiago, isso significa especificamente a rejeição dos
motivos da concorrência, da ambição pessoal e do acúmulo de riquezas,
paixões que jazem na raiz da falta de caridade e da multiplicação de
conflitos na comunidade (e.g., 4:1-4). Ao declarar que essa, e nada mais, é
a verdadeira religião aos olhos de DEUS, declara Tiago que a conversão é
coisa vã se não conduzir a uma vida transformada.
Russell P.
Shedd,. Edmilson F. Bizerra.
Uma Exposição De Tiago A
Sabedoria De DEUS.
Editora Shedd Publicações. pag. 61.
2. Consolar.
DEUS Dá somente Coisas
Boas (1.16-17)
O versículo 16 é com
frequência tratado como uma transição do pensamento dos versículos 13-14
para os versículos 17-18. A mudança é brusca: Não erreis. Não vagueiam tanto
no seu pensamento a ponto de acreditar que qualquer provação ou tentação,
com um propósito mal, vem de DEUS. DEUS somente dá o que é bom — e Ele é a
Fonte de todas as coisas boas. DEUS nos fez o tipo de pessoas que somos e
quando a criação estava completa Ele viu que tudo "era muito bom” (Gn 1.31).
Moffatt traduz a primeira parte do versículo Tg 1.17 da seguinte maneira:
“Tudo que recebemos é bom e todos os nossos dons são perfeitos”.
Pai das luzes (v. 17)
indubitavelmente tem um duplo sentido. Este termo se refere a DEUS como o
Criador das luzes do universo físico — sol, lua e estrelas. Mas Ele também é
o Pai de toda nossa iluminação espiritual e de todas as bênçãos. Tiago
contrasta aqui as mudanças de hora em hora no sol e lua com o caráter
imutável de DEUS. As luzes nos céus podem mudar de hora em hora e lançar
sombras onde previamente haviam lançado luz. Mas no caráter de DEUS “não há
variação, nem sombra de mudança” (ASV). Ele é imutável. Segue-se como
consequência certa do caráter imutável de DEUS de que em seu tratar conosco
“não há a menor variação ou sombra de inconsistência” (Phillips).
A Glória do Plano de
DEUS (1.18)
“O Novo
Nascimento”. DEUS, que é nosso Pai por meio da criação, é também nosso Pai
por meio da redenção. Homens redimidos do pecado são a glória coroada dos
propósitos de DEUS para a vida humana — “os primeiros espécimes da sua nova
criação” (Phillips). A palavra da verdade é a verdade do evangelho. Knowling
vai mais adiante e afirma: “Não podemos esquecer que o nosso Senhor (Jo
17.17-19) fala da ‘palavra’ que é verdade, por meio da qual os discípulos
devem ser santificados”. O propósito final de DEUS é conduzir-nos à
vitória por meio dos nossos testes para tornar-nos semelhante a Ele em
santidade e amor.
A. F. Harper.
Comentário Bíblico Beacon. Editora CPAD. Vol. 10. pag. 160-161.
Tg 1.17 Sendo assim,
como podemos evitar cair em tentação? O caminho está em um relacionamento
íntimo com DEUS e na aplicação da sua Palavra à nossa vida diária. Este
padrão nos levará a ver claramente que toda dádiva boa e perfeita vem do
alto. Em comparação com a visão de que DEUS envia o mal, Tiago ressalta o
fato de que toda boa dádiva e todo dom perfeito vêm do alto, de DEUS.
Podemos ter certeza de que DEUS sempre deseja o melhor para nós - não boas
coisas hoje e coisas más amanhã. O caráter de DEUS é sempre confiável e leal
- em DEUS, não há mudança, nem sombra de variação (Ml 3.6). Nada pode
impedir que a bondade de DEUS nos alcance. Ele não se intimida pelas nossas
incoerências e infidelidades.
1.18 Um exemplo
maravilhoso das boas coisas que DEUS nos dá (“toda boa dádiva e todo dom
perfeito”) é o nascimento espiritual! Nós somos salvos porque DEUS decidiu
nos tornar primícias das suas criaturas (seus próprios filhos). O nosso
nascimento espiritual não se dá por acidente, nem porque DEUS tinha que
fazê-lo. O novo nascimento é um presente para todos os crentes (veja Jo
3.3-8; Rm 12.2; Ef 1.5; Tt 3.5; 1 Pe 1.3,23; 1 Jo 3.9). A palavra da verdade
é o Evangelho, as Boas Novas da salvação (Ef 1.13; Cl 1.5; 2 Tm 2.15). Nós
somos informados sobre o novo nascimento por meio da leitura da Palavra de
DEUS e da pregação do Evangelho, e respondemos positivamente a ele.
Comentário do Novo
Testamento Aplicação Pessoal.
Editora CPAD. Vol 2. pag. 667.
Tg 1.17 Tiago afirmou:
“Ninguém que é tentado diga: Sou tentado por DEUS”. Contudo, será que DEUS
não está agindo em tudo, até mesmo no mal, razão pela qual nossa decisão
entre bem e mal possui apenas importância relativa? Diante disso a carta de
Tiago (e toda a Bíblia) pronuncia um categórico não: “Somente a boa dádiva e
o dom perfeito são lá do alto, do Pai das luzes.” A palavra de DEUS nos diz
claramente o que vem de DEUS e o que não vem dele.
a) O que vem de DEUS.
Ele afirma: “Eu sou o Senhor, e não há outro; Eu formo a luz e crio as
trevas; faço a paz e crio o mal; eu, o Senhor, faço todas essas coisas” (Is
45.6s). “Sucederá algum mal à cidade, sem que o Senhor o tenha feito?” (Am
3.6). A essas palavras de profetas corresponde a palavra em Sir 11.14: “Os
bens e os males, a vida e a morte, a pobreza e a riqueza vêm do Senhor”
[TEB]. Tudo isso é “boa dádiva e presente perfeito”, enviado pela sabedoria,
amor e santidade de DEUS. Por um lado não podemos perscrutar o agir DEUS (Rm
11. 33), por outro certamente vemos: em Jó desgraça e enfermidade foram
provas (Jó 1s). Israel foi duramente disciplinado por DEUS por meio de
Nabucodonosor na época da destruição de Jerusalém e do cativeiro babilônico.
Do contrário provavelmente teria sido assimilado e submerso pelos povos que
o cercavam. Acontece, porém, que DEUS incluiu Israel de tal forma em sua
educação que foi capaz de dar continuidade à sua história de salvação com
ele (cf. Is 40ss; Dn 9). DEUS também pode ordenar experiências difíceis e
aflitivas para nós, com a finalidade de nos separar do mal, proteger contra
a maldade e consolidar o bem. Suas dádivas não são sempre encantadoras e
aprazíveis, mas são sempre “boa dádiva e presente perfeito”. Paulo diz:
“Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a DEUS”
(Rm 8.28). Para que encontremos o caminho certo e permaneçamos nele, DEUS
nos envia felicidade e bem-estar, mas para a nossa educação e aprovação,
também sofrimento e pesar.
b) Tudo vem de DEUS,
exceto o pecado, o mal, a natureza impura e oposta a DEUS.
“Do alto” vêm apenas
coisas boas e todo o bem. A isso se costuma dizer: Novamente se trata da
visão de mundo antiga com sua concepção de “três andares”. Mas DEUS não está
“no alto” no sentido do lugar mais elevado. Está “no alto” e “em baixo”:
“Habito no alto e santo lugar, mas habito também com o contrito e abatido de
espírito” (Is 57.15). “Nele vivemos, nos movemos, e existimos” (At 17.28).
DEUS está “no alto” no sentido da elevada importância, da posição decisiva.
c) DEUS é a mais pura e
imutável luz. Ele é o “Pai das luzes”.
c.1 - Lutero traduz:
“Pai da luz.” DEUS é luz. Ele é “a fonte da vida, e em sua luz vemos a luz”
(Sl 36.9). DEUS é a fonte de todas as luzes, a “não-esgotada luz”. Assim
como a natureza e tudo o que é vivo depende do sol, assim nós, como humanos,
dependemos do sol de todos os sóis. Essa é nossa dignidade especial como
pessoas. Mas fazíamos sombra a nós mesmos: “Teu pecado faz separação entre
ti e teu DEUS” (Is 59.2). Aconteceu o “eclipse de DEUS” (Martim Buber).
Contudo, em sua misericórdia DEUS enviou a nós aquele que trouxe e traz sua
luz ao mundo. “A luz brilha nas trevas” (Jo 1.5). JESUS é “a luz do mundo”
(Jo 8.12). Seguindo-o encontramos o caminho por esse mundo. “Quem me segue
não andará nas trevas.” Esse é o conteúdo do evangelho: “A verdadeira luz
resplandece agora” (1Jo 2.8). Nossa condição cristã é termos sido “chamados
das trevas para a sua maravilhosa luz” (1Pe 2.9). O alvo dos caminhos de
DEUS é que, depois que a escuridão cobriu o orbe terrestre e trevas, os
povos (Is 60.2), “as nações se encaminham para a tua luz” (Is 60.3; Ap
21.24). Então já não dependeremos da luz criada, porque temos a ele próprio
de forma revelada (Ap 21.23). – Mas se DEUS for a fonte da mais pura luz, da
mais límpida santidade, então o pecado, o mal, não podem vir dele. A fonte
não consegue dar o que não se encontra nela.
c.2 - “O Pai das luzes.”
Muitos entendem a passagem imaginando DEUS como Pai dos astros
personificados. Mas a Bíblia constantemente fala de poderes angelicais
usando a imagem das estrelas, como provavelmente Jz 5.20; Sl 148.3; Is
14.12s; Dn 12.3; Ap 8.10; 9.1; 12.4. E também os poderes angelicais
excepcionalmente são chamados “filhos de DEUS” (Jó 1.6; 2.1).
DEUS é somente luz,
somente pureza, somente santidade. Não é comparável à terra com sua
alternância entre dia e noite, quando a claridade é seguida pela escuridão.
Em DEUS não existem as duas coisas: “Nele não existe mudança nem
escurecimento em decorrência da guinada” (os antigos pensavam que na
alternância entre dia e noite se tratava de uma guinada na trajetória do
sol. Hoje, porém, sabemos que a terra se “vira”, i. é, que sua rotação
constante produz esta alternância).
A mais preciosa das
dádivas de DEUS (v. 18).
Somos “irmãos amados”
(v. 16), porque somos filhos amados de DEUS, “filhos da luz” (Ef 5.8).
a) Como nos tornamos
isso? Certamente não através de nossa louvável decisão.
Tg 1.18 Tiago diz: “Ele
nos gerou segundo seu querer.” Sem dúvida, nosso Senhor nos chama e em
seguida espera de nós a decisão de segui-Lo. Contudo quando prestarmos
contas a nós mesmos em retrospectiva, não restará nenhuma honra para nós:
tudo foi feito por ele segundo sua vontade de tornar nova nossa vida (cf. Jo
15.16; Rm 8.28-30).
b) Através de que isso
aconteceu? Qual é seu instrumento? “Pela palavra da verdade.” Essa é a
dádiva de todas as dádivas. É a palavra que ilumina nossa situação, que
constitui a verdade sobre nós. É a palavra que “lavra algo novo”, que
representa a semente para os sulcos e que orvalha, nutre e limpa a
plantação. Ela traz a vida verdadeira, a vida a partir de DEUS. Leva-nos à
verdadeira existência humana, assim como DEUS nos concebeu (Mt 13.3ss; Lc
8.11). É a palavra que está sendo proclamada aqui, a palavra que em última
análise se chama JESUS CRISTO (Jo 1.1ss; Ap 19.13). Sua palavra é ESPÍRITO e
vida (Jo 6.63). Traz não somente conhecimento, mas possui força e é ação.
Assim como a palavra criadora de DEUS foi ação, assim também é ação a
palavra de nossa nova criação, a palavra do evangelho. Neste caso também
vale: “Pois ele falou, e tudo se fez; ele ordenou, e tudo passou a existir”
(Sl 33.9). Em tudo isso DEUS se mostra como o único fiel na grande apostasia
da humanidade, como o único verdadeiro, também no cumprimento de sua
promessa, quando todo o resto tiver se tornado refém da mentira (cf. Ap
19.11).
c) Que efeito e
finalidade tem essa palavra? “Para que fôssemos como que oferta de primícias
das suas criaturas.” Vimos acima que o objetivo de DEUS é voltar a clarear o
mundo obscurecido pela grande rebelião. “As nações hão de andar na luz dele
e os reis no fulgor de DEUS” (Is 60.3), “até que DEUS seja tudo em todos”
(1Co 15.28). JESUS é o resplendor da glória de DEUS (Hb 1.3), é “luz, que
veio ao mundo”. Nele a luz vinda de DEUS novamente nos alcançou. Ele é a luz
do mundo (Jo 8.12). Sob seu reflexo também nós somos “luz do mundo” (Mt
5.14). Mais do que isso: a luz está em nós por meio do ESPÍRITO dele,
tornando-se transparente em nós. “DEUS, que disse: Das trevas resplandecerá
a luz, ele mesmo resplandeceu em nosso coração, para iluminação do
conhecimento da glória de DEUS, na face de CRISTO” (2Co 4.6). O mundo zomba,
dizendo que nós cristãos seríamos no máximo a “luz traseira” do mundo. Mas
quando permanecemos singelamente voltados para nosso Senhor e abertos à
influência de sua palavra e seu ESPÍRITO, ele cuida para que apesar disso
sejamos e continuemos sendo “luz do mundo”.
Na metáfora da “oferta
de primícias” cumpre lembrar os primeiros frutos da colheita ofertados a
DEUS. A humanidade, lavoura de DEUS (Mt 13.38), produziu cardos e abrolhos.
Por isso DEUS permite que também a lavoura do ser humano produza cardos e
abrolhos (Gn 3.17-19). Contudo agora caiu no solo o único grão de trigo bom,
“importado” por DEUS para dentro desse mundo, o eterno Filho de DEUS (Jo
12.24). Consequentemente, a igreja de JESUS agora pode ser começo da
maravilhosa colheita de DEUS (Mt 13.30,37-43; Ap 14.15). A safra aponta para
além dela mesma. Ela é apenas começo, “fruto de primícias”. A igreja de
JESUS constitui um sinal de esperança para toda a criação (Rm 8.19ss).
Por realizar tudo isso,
a palavra de DEUS é a dádiva de todas as boas dádivas de DEUS.
Fritz Grünzweig.
Comentário Esperança Carta De Tiago. Editora Evangélica Esperança.
A. CRISTO Está Voltando,
5.7,8
Tiago não tenta provar a
doutrina da Segunda Vinda, nem anunciá-la. Para ele, a Segunda Vinda é uma
esperança viva para a Igreja Primitiva. Ele cita a iminência e realidade da
vinda (parousia) do Senhor como um motivo para os cristãos permanecerem
firmes: Sede, pois, irmãos, pacientes até a vinda do Senhor (v. 7).
A ilustração da época de
plantio e colheita foi tirada da experiência palestina. O fruto da terra é a
colheita de grãos. Ele era precioso porque a vida do lavrador e sua família
dependiam dele. Na Palestina, o grão é plantado no outono e recebe a chuva
temporã no final de outubro. Ele recebe a chuva [...] serôdia em março e
abril, pouco antes de estar maduro. Durante todo esse tempo, o agricultor
espera pacientemente pela colheita. A razão da sua paciência é sua esperança
confiante na colheita.
Tiago interpreta sua
própria parábola: Sede vós também pacientes, fortalecei o vosso coração,
porque já a vinda do Senhor está próxima (v. 8). A vinda do nosso Senhor era
uma grande fonte de esperança para os primeiros cristãos. Porventura temos
essa mesma expectativa em relação à vinda do Senhor? Tasker escreve:
Se a volta do Senhor
parece muito distante, ou se a relegamos a um futuro tão remoto que não
exerce nenhum efeito sobre a nossa perspectiva ou nossa maneira de viver,
fica claro que deixou de ser para nós uma esperança viva. E possível que
tenhamos permitido que a doutrina da sua volta em glória para julgar os
vivos e os mortos tenha sido abafada pelo ceticismo ou se transformado em
algo diferente, talvez como a transformação gradual da sociedade humana por
valores cristãos, que parou de exercer qualquer tipo de influência em nossas
vidas.
Na medida em que
permitimos que isso aconteça, cessamos de ser cristãos do Novo Testamento.
B. A Pressão nos Induz à
Impaciência, 5.9
O foco aqui muda da
paciência com os pecadores fora da igreja para a paciência um com o outro
dentro da Igreja. Alguém escreveu o seguinte:
Caminhar em amor com os
santos de cima Será uma maravilhosa glória; Mas, caminhar com os
santos aqui em baixo, Bem, isso já é uma outra
história!
Em tempos de
dificuldades, a paciência é provada e somos tentados a nos queixar (v. 9;
lit., gemer, ou seja, reclamar ou resmungar) uns contra os outros. Tiago
adverte os cristãos a não apontarem para os erros de outra pessoa, para que
não sejais condenados. A proximidade da vinda de CRISTO serve como
advertência contra o fracasso do cristão bem como para a consolidação da sua
constância. Além do mais, o juiz está à porta. O retorno de CRISTO está
próximo; Ele será o Juiz de todos os homens; portanto, não devemos assumir o
papel de julgar os outros, quer fora quer dentro da Igreja (cf. Mt 7.1-5).
C. Exemplos de
Paciência, 5.10,11
Exemplos de piedade e
devoção sempre servem de encorajamento para o cristão. Tiago provavelmente
tinha as palavras de JESUS em mente: “bem-aventurados sois vós quando vos
[...] perseguirem [...] por minha causa. Exultai [...] porque assim
perseguiram os profetas que foram antes de vós” (Mt 5.11-12). E por isso que
ele diz: Eis que temos por bem-aventurados (v. 11, “Eis que temos por
felizes”, ARA). “Nós, semelhantemente a JESUS, pronunciamos uma
bem-aventurança aos profetas que foram homens tão pacientes”. Tiago nos
lembra do nosso privilégio bem como do nosso sofrimento. Se sofremos por
DEUS, estamos em boa companhia. Por que os profetas, em vez de JESUS (cf. 1
Pe 2.21), foram escolhidos por Tiago como exemplos de paciência? Mayor
considera diversas possibilidades, entre elas que “Tiago deseja que eles
vejam JESUS como o Senhor da glória em vez de o padrão de sofrimento”.
Dos profetas que sofriam
com paciência e que falaram em nome do Senhor (v. 10), Tiago volta-se agora
para um homem que tem sido conhecido como “o maior exemplo” de paciência.
Essa é a única referência a Jó no Novo Testamento, embora Tiago entenda que
seus leitores estejam familiarizados com a história de Jó: Ouvistes qual foi
a paciência de Jó (v. 11). A paciência dos profetas era uma atitude de
longanimidade em relação aos seus compatriotas que os perseguiam. A palavra
usada para descrever a paciência de Jó (hypomene) significa persistência ou
tolerância. A paciência singular de Jó podia ser reconhecida na sua
determinação em suportar quaisquer que fossem os infortúnios, sem perder sua
fé em DEUS. A frase o fim que o Senhor significa “o alvo do Senhor”. O
apóstolo sabia que o propósito final de DEUS sempre é bênção para o homem
que suporta com paciência a aflição. Provavelmente, citando dos Salmos, ele
conclui: “porque o Senhor é cheio de terna misericórdia e compassivo” (v.
11, ARA; cf. SI 103.8; também Êx 34.6).
A. F. Harper.
Comentário Bíblico Beacon. Editora CPAD. Vol. 10. pag. 182-183.
Tg 5.7 Os crentes devem
ser pacientes mesmo em meio às injustiças. Os crentes precisam ter
perseverança, confiar em DEUS em meio às suas dificuldades, e se recusarem a
procurar a vingança pelas injustiças que são cometidas contra cada um deles
(veja também 1.2,12; Sl 37). Mas a paciência não significa inatividade.
Havia trabalho a ser realizado — servir a DEUS, cuidar uns dos outros, e
proclamar as Boas Novas. Existe um ponto final, uma ocasião em que a
paciência não será mais necessária - a vinda do Senhor. Nesta ocasião, tudo
será corrigido. A igreja primitiva vivia em constante expectativa da volta
de CRISTO, e nós devemos fazer o mesmo. Como nós não sabemos quando CRISTO
irá retornar, para trazer a justiça e remover toda a opressão, devemos
esperar com paciência (veja 2 Pe 3.8-10).
Como um exemplo de
paciência, Tiago fala do lavrador, que precisa esperar o precioso fruto da
terra, aguardando-o com paciência.
A paciência deve ser
exercitada e desenvolvida no período entre as chuvas. Até mesmo aqueles que
não são lavradores têm muitas oportunidades para desenvolver a paciência. A
espera da chegada de um bebê, o início em um novo emprego, a conclusão dos
estudos, a espera pela visita de alguém querido, a melhora lenta da saúde
durante uma enfermidade prolongada – todas estas situações colocam a nossa
paciência à prova.
Nós iremos exercitar a
paciência quando nos concentrarmos no resultado final da nossa espera. O
caminho de DEUS raramente é o caminho mais rápido, mas é sempre o caminho
completo.
Tg 5.8 Em lugar de serem
como os ricos do versículo 5, que “engordaram” seus corações na riqueza
deste mundo, os crentes devem permitir que a certeza do retorno de CRISTO os
ajude a ser pacientes e a fortalecer o seu coração, isto é, ter coragem.
Quaisquer que sejam as circunstâncias, Tiago nos encoraja a sermos firmes na
nossa fé e a termos uma alegria inspirada pela fé que impregne todas as
partes da vida (veja 1.2-4). Como o lavrador, nós investimos muito tempo na
nossa esperança futura. O lavrador está à mercê do clima - ele está fora do
seu controle. Mas nós realmente sabemos que a vinda do Senhor está próxima.
Tg 5.9 Estes crentes,
que estavam enfrentando a perseguição de fora e os problemas de dentro da
igreja, naturalmente poderiam se achar resmungando e criticando uns aos
outros. Tiago não quer que eles se encham de ressentimentos e amarguras uns
em relação aos outros — isto somente destruiria a unidade de que eles
precisam tão desesperadamente. Recusar-se a se queixar uns contra os outros
faz parte da virtude de ser paciente (5.7). Queixar-se uns dos outros indica
uma atitude descuidada em relação às palavras. Devido aos perigos criados
pelas nossas palavras (veja Tg 3.I-I2), não podemos ser descuidados na
maneira como falamos uns com os outros e uns dos outros.
Tiago já mencionou o
grande Juiz (4.12).
Este Juiz não está
longe, mas já está à porta. Tiago está advertindo os
crentes a que não estejam envolvidos em julgamentos, brigas críticas ou
mexericos quando aquele a quem deveriam servir retornar. O conhecimento da
presença de CRISTO não é apenas confortante; ele também pode ser condenador
– especialmente quando nós começamos a nos comportar como se Ele estivesse
longe.
Tg 5.10 Os cristãos de
origem judaica conheciam as histórias dos profetas, muitos dos quais
sofreram enormemente ou foram mortos por proclamar a mensagem de DEUS (veja,
por exemplo, o caso de Elias, em 1 Reis 19.1 ss.; o caso de Jeremias, em
Jeremias 38; e o caso de Amós, em Amós 7). Tiago está lembrando os seus
leitores de que mesmo aqueles que falaram em nome do Senhor tiveram que ter
paciência na sua aflição. O significado parcial é que DEUS não preserva
aqueles a quem Ele chamou do sofrimento; antes, Ele os preserva no
sofrimento. Eles tornam-se um exemplo para todos os crentes por causa da sua
obediência e fidelidade, a despeito das dificuldades que suportaram.
Tg 5.11 Aqui Tiago está
levando seus leitores à aplicação das lições de pessoas do Antigo
Testamento. Por exemplo, Jó pode nos oferecer um olhar fascinante à história
antiga e uma biografia interessante, mas a melhor obra de Jó é como um
professor: alguém que sofreu e que pode nos ajudar a suportar o sofrimento.
A sua vida é um exemplo que nós precisamos seguir. Jó pode ter reclamado,
mas ele não deixou de confiar em DEUS, ou de obedecer ao Senhor (veja Jó
1.21; 2.10; I6.I9-2I; 19.25-27). E o Senhor o libertou e o restaurou (veja
Jó 42.12). Os crentes, depois de todo o sofrimento que tinham suportado até
então, eram encorajados a não desistir - DEUS os libertaria e os
recompensaria.
Nós podemos ver
claramente, com base na vida de Jó, que a perseverança não é o resultado do
entendimento. Jó nunca recebeu uma explicação de DEUS sobre o seu
sofrimento.
Isto deve-se, em parte,
ao fato de que a dor é frequentemente uma parte da vida que deve ser
suportada sem explicações. Existem muitas coisas que nós conseguimos
entender, mas não todas. O objetivo de DEUS não é que nós simplesmente
desenvolvamos uma mente cheia de explicações e respostas; o seu objetivo é
trazermos a um ponto em que nós confiemos nele. DEUS não gosta de ver o seu
povo sofrendo. Ele permite que o seu povo enfrente a dor porque um bem maior
será produzido. Enquanto isto, Tiago encoraja os seus leitores a confiarem
em DEUS, a esperarem pacientemente, a perseverarem, e a se lembrarem de que
DEUS é muito misericordioso e piedoso.
Comentário do Novo
Testamento Aplicação Pessoal.
Editora CPAD. Vol 2. pag. 689-690.
Primeiramente ocorre a
menção do grande horizonte que domina a história universal, o grande dia do
juízo. Na sequência Tiago mostra que esse horizonte não é apenas assustador,
mas também consolador, útil e mais uma vez compromissivo. Temos a impressão
de que não somente no presente bloco, mas em toda sua carta Tiago visa
fornecer uma orientação para “viver o cotidiano à luz do Senhor vindouro”
(K. Hartenstein).
1 – O grande futuro
ajuda a viver corretamente no presente (v. 7s).
Mas como podemos
perseverar na fé, até mesmo quando somos alvo da injustiça descrita no v. 6?
Tg 5.7 “Perseverai,
pois, irmãos, até à chegada do Senhor”:
a) “Irmãos”: aqui
o texto se dirige àqueles que ouviram o chamado de JESUS e se tornaram
filhos de DEUS por arrependimento e fé e pelo ESPÍRITO SANTO (Rm 8.14s).
b) “Chegada”, em grego
parousia, “do Senhor”: a palavra, freqüentemente traduzida como “volta”,
significa literalmente “presença”, “chegada” (parousia tem ambos os
significados: estar presente e tornar-se presente). A palavra expressa aqui
que Aquele que no passado veio discretamente como ser humano e que agora
está presente de modo invisível, inclusive por meio sua palavra e ESPÍRITO,
virá e se manifestará súbita e dominantemente em divindade explícita (Jo
1.14; Mt 18.20; 28.20; 25.31s; Lc 17.24; 1Co 1.7; Fp 3.20; Tt 2.13).
Sabemos, para onde correm a história do mundo e da salvação. Essa
esperança determina nossa atualidade. “A expectativa esperançosa do futuro torna-se rigorosa disciplina
para a atualidade” (Heinrich Rendtorff). A questão dominante é se estamos
prontos para a chegada dele (Mt 24.44; Lc 12.35). Seja como for, cabe dizer
“que somente poderemos falar de uma vida cristã quando o olhar para o Senhor
vindouro dominar todas as coisas.
c) “Suportai, pois, com
paciência”: no NT grego consta um verbo formado por makrothymia =
“longanimidade”, “perseverança”. Por sabermos que DEUS pronunciou a primeira
palavra sobre este mundo e que também pronunciará a última, podemos ter
fôlego resistente. Por termos conhecimento de como tudo “se apaga” em nossa
vida pessoal e no mundo todo, podemos aguentar firmes.
“Considerai
como vossa beatitude a longanimidade de nosso Senhor” (2Pe 3.15). DEUS
espera até que sua casa esteja cheia (Lc 14.22s), até que tenha entrado o
“número pleno dentre as nações” previsto por ele (Rm 11.25). Não é DEUS quem
nos faz esperar, mas somos nós que o fazemos esperar. A morosidade não é de
DEUS, mas nossa (2Pe 3.9,14s). Necessário é que os chamados também sejam
preparados para que o Filho possa apresentar-nos ao Pai (Ef 5.25-27; Fp 1.6;
2Co 4.14; Cl 1.22,28; 1Ts 5.23). “Esperai e correi” em 2 Pe 3.12 igualmente pode ser traduzido como
“esperai e acelerai”. Apesar de todas as exortações à paciência certamente
temos também a permissão e a ordem de suplicar pela vinda próxima de JESUS
(Ap 22.17; Rm 8.18-27). Também Lc 18.7s se refere, conforme o contexto, à
intervenção de DEUS em seu grande dia para redimir os seus e eliminar o
inimigo (cf. também Rm 16. 20; Ap 20.1-3).
d) De uma forma geral,
as pessoas estão acostumadas a aguardar algo que na verdade não têm em mãos,
mas do que não duvidam, em última análise por confiarem na fidelidade de
DEUS: “Eis que o lavrador aguarda.” Espera por duas coisas:
d.1) Pelo resultado de
seus esforços: “o precioso fruto da terra”. Constitui grande milagre que a
terra dê, com antiga fidelidade, a cada ano, o que o ser humano precisa.
Quando falha apenas um ano, isso representa, até mesmo na atual era
industrial, a maior catástrofe. Mas, após um crescimento praticamente
imperceptível, a terra produz fielmente suas dádivas, embora as plantinhas
sejam inicialmente muito
pequenas e ameaçadas. O próprio DEUS se mantém fiel a nós nessa questão:
“Enquanto durar a terra não cessarão semeadura nem colheita” (Gn 8.22; cf.
Mc 4.26-29).
d.2) Espera que a planta
receba o que precisa para crescer e amadurecer: “as primeiras e as últimas
chuvas”, a chuva no outono para a semeadura e a germinação, a chuva na
primavera para o crescimento e a maturação. O agricultor pratica com denodo
e cuidado o que sabe e pode fazer. Deixa o restante serenamente por conta de
alguém outro.
Tg 5.8 e) “Suportai-vos
também com paciência”: também no caso do reino de DEUS temos uma colheita
(Mt 13.23,30; Ap 14.15s; Sl 126.5s; Gl 6.9). Também nele é preciso semear e
trabalhar a lavoura (Mt 13.3,24; 1Co 3.9; Gl 6.9). Porém o próprio Senhor
tem de conceder o crescimento (1Co 3.6). Por meio da metáfora do lavrador se
expressam duas coisas:
e.1) Não se preocupem, um
dia haverá uma colheita. Os cardos e abrolhos, o inço semeado pelo inimigo
não poderão sufocar tudo (Mt 13.8,23,30). e.2) A lavoura recebe de
DEUS aquilo de que tem necessidade, “as primeiras e últimas chuvas”, sua
palavra e seu ESPÍRITO (bem como as pessoas que prestam o serviço, hoje e
amanhã – 1Co 3.6). “Aquele que começou boa obra em vós há de completá-la até
ao dia de CRISTO JESUS” (Fp 1.6). Por isso nós também podemos estar
tranquilos. O fato de que a
extraordinária semente tenha caído no solo já não poderá ser revertido pelo
inimigo com sua astúcia e violência, nem com todo o seu exército (Jo 12.24).
Pelo fato de nosso Senhor ter sido morto e ressuscitado, a colheita para
DEUS pode amadurecer em nossa vida e também na vida de outros, por meio de
nós. Já não será em vão o que fizermos (1Co 15.58).
f) Como, porém,
sustentaremos essa paciência e serenidade? Tiago convoca: “Fortalecei os
corações.” E Paulo escreve: “Sede fortes no Senhor” (Ef 6.10). A “bateria”
de nossa própria força se esgotaria rapidamente. Somente quando perseveramos
na “fonte energética” da força dele somos capazes de resistir. Cuidar desse
contato significa “fortalecer os corações”. JESUS expressa isso por meio da
ilustração da videira e dos ramos: “Permanecei em mim, e eu em vós, e dareis
muito fruto. Porque sem mim nada podeis fazer” (Jo 1.3s). – Tiago afirma:
toda a questão pode ser vista em conjunto. Afinal, não é possível continuar
infinitamente assim: “A chegada do Senhor está próxima”.
2 – Como o grande dia da
salvação ainda poderia se tornar uma desgraça para nós (v. 9).
De que nos valeria a
esperança pelo grande dia se, quando ocorrer, não fôssemos encontrados
prontos?
Tg 5.9 Tiago diz como
isso pode acontecer precisamente na época em que a “injustiça toma conta e o
amor esfria em muitos” (Mt 24.12): “Não vos queixeis uns aos outros,
irmãos”: a queixa pode se dirigir contra o entorno, mas também contra os
co-cristãos (“uns aos outros”). Tempos de perseguição sempre foram também
tempos de confusão interior nas igrejas. Isso duplica o sofrimento. Amigos
se afastam e nos atacam pelas costas. Alguns não querem ceder nem um
milímetro. Outros gostariam de fazer acordos dizendo ser “prudência de
serpente” (Mt 10.16), como a definem. O inimigo sempre manejou de forma
excelente a arte de “dividir e dominar”. Alguém que persistir fielmente em
seu lugar certamente ficará amargurado e gemerá por causa de seus amigos.
Desse modo, porém, em pensamento já estará julgando (cf. acima o comentário
a Tg 4.11s). E nosso Senhor declara: “Não julgueis, para que não sejais
julgados” (Mt 7.1). Também Tiago nos diz o que está em jogo nesse pensamento
(como tal muito bem inteligível): “Para que não sejais julgados” (novamente
notamos que Tiago está próximo do Sermão do Monte). Em vista do grande juízo
final temos de escolher se enveredaremos pela “via judicial” (“exijo o meu
direito!” – contudo desse modo não somos capazes de “responder nem a uma de
mil coisas”, Jó 9.3), ou, então, pela “via da graça”. Nosso Senhor franqueou
este caminho com seu sacrifício e nos convida, consequentemente, a
apresentar nosso “pleito por graça”. “Quem invocar o nome do Senhor será
salvo” (Jl 2.32). Quando julgamos ao próximo, “queixando-nos” dele e
buscando proceder contra ele pela “via judicial”, abandonamos também para
nós mesmos a “via da graça”. JESUS, por exemplo, declara: “Com a medida com
que tiverdes medido, vos medirão também” (Mt 7.2; cf. Mt 18.23-35). – “O
Juiz está diante da porta”: nosso Senhor virá em breve. Isso faz com que
tudo seja ainda mais atual.
3 – Outros foram
exemplos para nós na perseverança (v. 10s).
Tg 5.10 Não somos os
primeiros que passam por coisas desse tipo. Em outros que trilharam o
caminho antes de nós podemos constatar o que acontece com uma pessoa, como
ela procede corretamente e a que alvo DEUS a leva: “Irmãos, tomai por modelo
no sofrimento e na paciência os profetas, os quais falaram em nome do
Senhor”: se tivessem silenciado, nada lhes teria acontecido. Se tivessem
dito o que as pessoas gostam de ouvir, teriam sido aplaudidos. Contudo
perseveraram em sua missão. Por isso, no lugar em que se encontravam estava
também seu Senhor (cf. 1Rs 18.36). Pessoas como elas são incômodas para o
inimigo. Mas ele sempre encontra outras pessoas que também se deixam usar
como instrumentos dele contra aquelas. Elas passam a atacar duramente os
mensageiros de DEUS. Por isso eles não ficam isentos do sofrimento. Porém,
confiando em seu Senhor, preservam e comprovam paciência, perseverança e
rumo claro. Também os que foram crentes antes de nós não passaram sem
tribulação por este mundo. Não esperemos algo diferente!
Tg 5.11 “Temos por
felizes os que perseveraram firmes”: no entanto não adianta somente
declará-los felizes. Temos de seguir o exemplo deles. Não basta ler
biografias cristãs. É necessário que em nosso lugar e nossa época também nós
sejamos aprovados no sofrimento e na paciência.
Em Hb 11.17-40 cita-se
por nome uma série de pessoas que andaram o caminho antes de nós e cruzaram
a meta. Tiago, porém, menciona somente uma: Jó. “Tendes ouvido da paciência
de Jó”: atingiam-no, golpe após golpe, as “notícias sinistras”. Ele, porém,
dizia: “O Senhor o deu e o Senhor o tomou; bendito seja o nome do Senhor!”
(Jó 1.21), bendito apesar de tudo! A pessoa mais próxima dele, sua esposa,
aconselhou-o a renegar a fé: “Amaldiçoa a DEUS e morre!” (Jó 2.9). Ele,
porém, ficou firme: “Temos recebido o bem de DEUS e não receberíamos também
o mal?” (Jó 2.10). Ao prosseguir na leitura do livro, notamos: nem mesmo Jó
estava livre de dúvidas. Às vezes passava bem perto da ira contra DEUS.
Também os líderes espirituais de nosso país não desempenharam sempre um
papel tão admirável como poderíamos imaginar a partir de diversas
biografias. E tampouco nós o desempenharemos. “… para que diante dele
ninguém se glorie” (1Co 1.29).
“Vistes o fim do Senhor;
que o Senhor é rico em terna misericórdia e cheio de compaixão”: O “fim do
Senhor” é, na acepção lingüística ativa, uma expressão hebraica peculiar e
significa o fim (positivo) que DEUS deu à atribulada trajetória de Jó, o
alvo para o qual ele o conduziu (Jó 42.10-16). DEUS declarou-se
admiravelmente favorável a Jó. Como razão de tudo isso Tiago cita somente
uma coisa: “que o Senhor é rico de terna misericórdia e cheio de compaixão”
(cf. acima o comentário sobre Tg 2.13; 3.17 acerca da misericórdia de DEUS).
Pergunta-se se essa
palavra também se refere a JESUS. Nesse caso significa: o destino de Jó foi
uma das prefigurações da trajetória de JESUS. De forma muito diferente de Jó
ele também comprovou a perseverança paciente. E o desfecho positivo nele foi
ainda mais significativo (Fp 2.5-11). Nós “vimos” que DEUS se declarou
milagrosamente a favor dele na Páscoa e na Ascensão. Igualmente “vimos”, ou
seja, experimentamos, que “o Senhor é rico de terna misericórdia e cheio de
compaixão”. Por ter passado por tudo isso, nosso Senhor nos compreende
completamente e tem maior compaixão com nossa fraqueza (Hb 4.15).
É possível uma ou outra
interpretação da passagem. Seja como for, a mensagem é: é verdade que
passamos por consideráveis sofrimentos e testes de paciência, porém temos um
Senhor misericordioso que não nos quer torturar, mas conduzir a um fim
glorioso (Is 28.29; 1Co 10.13).
Fritz Grünzweig.
Comentário Esperança Carta De Tiago. Editora Evangélica Esperança.
3. Fortalecer.
DEUS está tão
interessado na forma em que ganhamos e gastamos o nosso dinheiro quanto está
com o montante que colocamos na sacola de ofertas. O versículo 4 condena
aqueles que se tornam ricos por meio da exploração. Encontramos aqui um
paralelo hebraico comum na poesia do Antigo Testamento, no qual o segundo
pensamento repete o primeiro de uma forma levemente diferente. Na primeira
cláusula, são os clamores dos que ceifaram que entraram nos ouvidos do
Senhor. A linguagem reflete a lei do DEUS do Antigo Testamento para o
trabalhador: “Paguem-lhe o seu salário diariamente, antes do pôr-do-sol,
pois ele é necessitado e depende disso. Se não, ele poderá clamar ao Senhor
contra você, e você será culpado de pecado” (Dt 24.15, NVI). Jahwe Sabaoth
(Senhor dos Exércitos) era um nome israelita para Javé.
O versículo 6 reflete a
riqueza desonesta adquirida por meio de ações fraudulentas da justiça. Em
2.6, Tiago refere-se aos ricos que “vos arrastam aos tribunais”. Ele não vos
resistiu provavelmente significa que o pobre não tinha uma defesa legal
adequada. Nos tribunais, os ricos influentes têm “condenado e devastado”
(Phillips) o pobre que não tem condições de pagar o salário de um advogado
ou o suborno para o juiz. O desamparo da vítima somente aumenta a culpa do
opressor. Quando o desejo por riqueza se torna tão intenso a ponto de
planejar tirar a vida de outra pessoa, a ganância tornou-se assassina.
A. F. Harper.
Comentário Bíblico Beacon. Editora CPAD. Vol. 10. pag. 189-190.
Tg 5:4 Além do mais,
Tiago sabe que as riquezas acumuladas em geral indicam injustiça. Na
Palestina, em geral, tratava-se de injustiça contra os trabalhadores rurais.
Vede! o salário dos trabalhadores que ceifaram os vossos campos, e que por
vós foi retido com fraude, está clamando. O sistema econômico da Palestina
utilizava trabalhadores braçais diaristas, em vez de escravos, em parte
porque o escravo passaria a custar mais, caso ele se convertesse ao judaísmo.
Esses trabalhadores contratados eram os filhos jovens das famílias de
camponeses expulsas de suas terras por causa de bancarrota, quando as
hipotecas das propriedades venceram e não havia como pagá-las. Tais
trabalhadores viviam da mão à boca. O salário de hoje é para comprar o
desjejum de amanhã. Quando o salário não era pago no fim do dia, a família
passava fome. A despeito de uma porção de mandamentos no Antigo Testamento
(Lev 19:13; Deut 24:14-15), os ricos descobriam jeitos de reter
o salário dos trabalhadores (e.g., Jer 22:13; Mal 3:5). O
fazendeiro poderia retê-lo até o fim da época de colheita, a fim de garantir
que o camponês viria trabalhar; poderia apelar para uma minúcia técnica a
fim de provar que o contrato não foi cumprido; ou poderia alegar estar
cansado demais para pagar o salário no fim do dia. Se o trabalhador
reclamasse, o patrão o poria na lista negra; se fosse aos tribunais, o rico
teria os melhores advogados. Assim é que Tiago retrata o dinheiro no bolso
dos ricos, dinheiro que deveria ter sido usado para pagar os trabalhadores
que clamam por justiça.
Os clamores não deixaram
de ser ouvidos por alguém: os clamores dos ceifeiros chegaram aos ouvidos do
Senhor Todo-poderoso. Visto tratar-se de ceifeiros, não pode haver desculpa
de falta de dinheiro; há montões de cereais para serem vendidos. O
trabalhador faminto apelou aos prantos para o único recurso que tem: DEUS.
Ao mencionar o Senhor Todo-poderoso, Tiago lembra seu leitor de Isaías 5:9,
onde as pessoas que adquirem grandes latifúndios são condenadas.
Todos os judeus sabiam o
que acontecia às pessoas condenadas por Isaías, e também sabiam que os
ouvidos de DEUS estão abertos para os pobres (Salmo 17:1-6; 18:6; 31:2), de
modo que a declaração de Tiago inclui a ameaça de julgamento.
Peter H. Davids.
Comentário Bíblico Contemporâneo. Editora Vida. pag. 150-151.
Tg 5.4 Violação não
apenas do amor, mas igualmente do direito (cf. Lv 19.13; Dt 24.14; Jr
22.13). “Eis que o salário dos trabalhadores que ceifaram os vossos campos e
que por vós foi retido com fraude está clamando; e os clamores dos
cortadores penetraram até aos ouvidos do Senhor dos Exércitos”: não somente
deixaram de doar, mas tampouco deram o que era devido (até mesmo por um
serviço que lhes trouxe muitos rendimentos). Também nós cristãos temos de
nos submeter a interrogatório nesse aspecto. Paulo diz: “Não fiqueis devendo
nada a ninguém” (Rm 13.8). Talvez façamos muitas coisas voluntariamente no
sentido do amor cristão (o que possivelmente nos rende certo
reconhecimento). Contudo geralmente deixamos de fazer o que simplesmente
teria sido nosso dever e o que todos consideram óbvio (motivo pelo qual não
rende nenhuma admiração). Primeiro temos de satisfazer a justiça, antes de
praticarmos o amor. Primeiro temos de pagar as contas antigas e assalariar
com justiça nossos colaboradores, antes de fazermos grandes donativos. É
possível atuar ocasionalmente de maneira cristã, e ao mesmo tempo
negligenciar os pais idosos, o cônjuge e os próprios filhos. “Se alguém não
tem cuidado dos seus e especialmente dos da própria casa, tem negado a fé e
é pior do que o descrente” (1Tm 5.8). Como pregadores e pastores podemos ter
grande alcance pela mensagem falada e escrita e ter um nome, e ao mesmo
tempo negligenciar os enfermos, os idosos e a população de risco na própria
congregação e igreja. “O que se requer dos administradores é que cada um
deles seja encontrado fiel” (1Co 4.2). Somos administradores com tudo o que
temos e somos. Tudo é propriedade dada em custódia. Importa, então, ser fiel
no lugar em que DEUS nos colocou.
O salário retido “grita”
a DEUS como o sangue de Abel (Gn 4.10) e como o pecado de Sodoma (Gn 18.20).
Surpreendentemente DEUS se importa também com a realidade social e nosso
comportamento em sociedade. Não queremos ficar em dívida nem nos aproveitar
da parte contrária, sejamos empregadores ou empregados. Também categorias
profissionais inteiras devem receber o que lhes cabe, p.ex., a classe
camponesa, porque “todo trabalhador é digno de seu salário” (cf. Lc 10.7).
Faz parte do “salário” também a moradia digna e a obtenção do devido
reconhecimento, sem ser degradado para cidadão de segunda categoria.
Fritz Grünzweig.
Comentário Esperança Carta De Tiago. Editora Evangélica Esperança.
Tg 5.1-3. Essa seção,
que trata do julgamento de DEUS aos ricos, é uma continuação natural de
4.13-17, em que Tiago trata da ideia de fazer negócios e obter ganhos sem
incluir DEUS nos planos. Há, no entanto, uma mudança marcante na atmosfera
da epístola. Em 4.13-17, Tiago se dirige aos mercadores da Diáspora; aqui
ele tem em foco os ricos proprietários de terra da Palestina. No capítulo
4, o autor estende esperança e aperfeiçoamento; aqui há apenas um
prognóstico de julgamento. Em outra parte da epístola, o autor se dirige aos
“irmãos” cristãos; aqui, obviamente ele está se dirigindo aos ímpios.
É possível que Tiago tenha
imaginado que sua mensagem escrita pudesse cair nas mãos de algumas pessoas
dessa classe de homens ricos e eles seriam, assim, advertidos. Cremos que o
ESPÍRITO SANTO tinha em mente uma influência mais ampla do que a que
encontramos em nossa Bíblia
— uma influência que
certamente ia além do que Tiago imaginava quando foi movido pelo ESPÍRITO
SANTO a lhes escrever.
A. O Ai Pronunciado, 5.1
Em nenhum lugar do Novo
Testamento os ricos são denunciados simplesmente pelo fato de serem ricos.
Os ricos (v. 1) estão inclinados a dizer para si mesmos:
“Coma, beba e folgue”; mas DEUS diz: chorai e pranteai por vossas misérias,
que sobre vós hão de vir. Quando DEUS fala, é bom prestar atenção.
B. Acúmulo Egoísta,
5.2,3
Tiago aponta agora para o
mal das riquezas que são acumuladas de maneira egoísta, em vez de gastas ou
investidas para um propósito que DEUS aprova. O julgamento descrito nessa
seção não havia se cumprido no tempo em que Tiago estava escrevendo, mas
esse julgamento é tão certo que Tiago fala a respeito dele de maneira
profética. O significado literal do grego é que essas misérias já estão no
processo de se tornarem realidade. Vossas riquezas (v. 2) provavelmente
referem-se a riquezas agrícolas como grãos, vinho ou óleo, que eram
estocadas mas que também estavam sujeitas a se estragar (cf. Lc 12.16-20).
A
expressão os últimos dias (v. 3) parece claramente referir-se à consumação
do tempo e ao dia do julgamento. Na última sentença do versículo 3, parece
haver um jogo de idéias e palavras. Os ricos que acumulavam tesouros para os
seus próprios “últimos dias” descobrirão que esses tesouros tornaram-se fogo
nos últimos dias do julgamento final. “Sua ferrugem [...] comerá sua carne,
visto que vocês armazenaram fogo”.
A. F. Harper.
Comentário Bíblico Beacon. Editora CPAD. Vol. 10. pag. 188-189.
Observação minha - Ev. Henrique - Dali a alguns anos
esses mesmos ricos perderiam tudo devido à invasão romana. (ano 70).
Tg 5.1 As palavras “chorai e pranteai” eram frequentemente
usadas no Antigo Testamento pelos profetas para descrever a reação dos
ímpios quando o Dia do Senhor (o dia do juízo de DEUS) chegasse (veja Is
13.6; 15.3; Am 8.3). JESUS disse que entre aqueles que fossem excluídos do
reino de DEUS haveria pranto e ranger de dentes (Mt 8.12; 22.13; 24.51;
25.30).
Tg 5.2 A instabilidade
das riquezas é a advertência mais evidente das “misérias” futuras dos ricos.
Os bens que estão apodrecidos e as roupas que se transformam em farrapos
indicam a transitoriedade da vida. O seu dinheiro, a sua segurança, o seu
luxo e a sua autoindulgência são equivalentes a coisas apodrecidas porque
não lhes servirão para nada na eternidade.
Comentário do Novo
Testamento Aplicação Pessoal.
Editora CPAD. Vol 2. pag. 687-688.
Tg 5; 1-3. No bloco
anterior Tiago falou de pessoas seguras de si que pensam não precisar de
DEUS. É possível que agora tenha lembrado da objeção: “No entanto, não
deixam de ter êxito e prosperar. Têm todos os trunfos na mão e os usam. Nós
pessoas humildes temos de sofrer muito debaixo dessa situação.” Em
decorrência, Tiago apresenta neste trecho o que acontece com a riqueza vinda
de DEUS. No presente caso as pessoas de que se fala não são primordialmente
membros da igreja (ainda que vários do seu âmbito tiveram e têm de se
confrontar com a pergunta: “Senhor, sou eu?”). A princípio os ricos fora da
igreja não devem ter visto a carta (como também ocorreu com as palavras
proféticas sobre a Babilônia, Assíria, Tiro, etc. – Is 13-23; Jr 46-51; etc.
– que não foram proclamadas nessas cidades). Mas a palavra serviu para
deixar as coisas claras.
1 – “Vós ricos”, em
grego ploúsios (v. 1).
1 a) No Sl 73.12 consta:
“Os ímpios aumentam suas riquezas”. Também nos evangelhos os ricos
muitas vezes participavam da oposição (Mt 23.14; Lc 16.14). O próprio JESUS
descreve em suas parábolas dois personagens ricos para os quais a
propriedade veio a ser fatal: o rico que ignorava Lázaro que jazia à sua
porta (Lc 16.19ss) e o rico agricultor que se
satisfazia com sua riqueza, acreditando poder usá-la exclusivamente em prol
de si mesmo (Lc 12.16-21). JESUS sentencia: “É mais fácil passar um camelo
pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no reino de DEUS” (Mt 19.24;
Lc 18.25). E Paulo escreve: “Ora, os que querem ficar ricos caem em tentação
e cilada” (1Tm 6.9).
b) Também hoje muitas
pessoas são ateístas não tanto por causa de dúvidas intelectuais, mas porque
no fundo pensam não precisar de DEUS e por confiarem nos bens, na boa
posição, em suas capacidades. São esses seus ídolos. “A
avareza é uma raiz de todos os males” (1Tm 6.10). Leva a uma atitude errônea
perante DEUS e pessoas.
c) Para a última jornada
da história universal anuncia-se que o anticristo controlará tudo e
boicotará os que se mantêm fiéis a JESUS (Ap 13.17). Nos salmos eles são chamados de “necessitados” (Sl 10.2,12; 12.5; 34.2,7;
74.19-22; etc.). JESUS os chama de “pobres”. Mas declara: “Bem-aventurados
vós, os pobres” (Lc 6.20).
2 – Muda a situação (v.
1-3).
a) O fato da mudança de
tom.
Tiago vê aproximar-se o que os ricos ainda não veem: “Atenção, agora,
ricos,
chorai lamentando, por causa das vossas desventuras, que vos
sobrevirão!” “Como o mundo jaz cego e morto! Dorme em segurança e
presume que a aflição
do grande dia ainda está distante e remota” (J. C. Rube; cf. também Lc
17.26-30).
2 b) A causa da guinada.
“Vossa riqueza está apodrecida”: provavelmente tem-se em mente as ricas
reservas de víveres que foram estocados e agora se deterioraram. Era muito
melhor guardar esses estoques do que dá-los aos pobres (Sl 41.2; Pv 19.17;
Sir 4.1-6; Mt 5.42; 25.40; Lc 6.38; Gl 6.9s; Hb 13.16). Novamente somos
lembrados aqui do Sermão do Monte (Mt 6.20).
Tg 5.3 “Vosso ouro e vossa
prata enferrujaram”: os antigos ainda não tinham a possibilidade de limpar
metais nobres de outras substâncias da forma como nós. Por isso era possível
que em certas condições também ouro e prata oxidassem. As ações caem.
Empresas de renome pedem concordata ou têm de ser vendidas com urgência; não
resta muita coisa aos donos antigos. Instala-se o desemprego. Bons cargos se
perdem. Outros ramos da economia são prejudicados também. Caem as receitas
de impostos. Uma coisa está ligada à outra. O chão treme sob os pés. Ou pode
ser até mesmo que grasse pelo país o arado da guerra e da revolução; grandes
personalidades de ontem tornam-se hoje mendigos.
c) Bens não usados
transformam-se em acusação: “Sua ferrugem há de ser por testemunho contra
vós mesmos”: Na grande data do juízo de DEUS servirão de testemunhas contra
eles os mantimentos deteriorados e as roupas, bem como o dinheiro estocado e
depreciado, que não manteve seu brilho, por assim dizer, por não circular
nas mãos de terceiros. Não obstante, um dia seremos questionados: Vocês
ouviram muito sobre a miséria daqueles povos distantes, mais do que no
passado. E vocês também tinham mais possibilidades de fazer algo, mais que
no passado. O que foi que vocês cristãos ocidentais abastados fizeram nessa
área?
d) A conexão de nosso
destino com o de nossos bens. “Sua ferrugem há de devorar, como fogo, a
vossa carne”: a ruína do que foi acumulado contagia aquele que acumulou e
que se prendeu às coisas acumuladas. O ídolo arrasta o idólatra junto em sua
própria ruína. João escreve: “O mundo passa, bem como a
sua concupiscência; aquele, porém, que faz a vontade de DEUS permanece
eternamente” (1Jo 2.17). É extremamente importante soltar-se do mundo e
ligar-se a JESUS. Ele declara: “A (vontade e a) obra de DEUS é esta: que
creiais naquele que por ele foi enviado.” (Jo 6.29). “Todo o que comete
pecado é escravo do pecado… Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente
sereis livres” (Jo 8.34,36).
Fritz Grünzweig.
Comentário Esperança Carta De Tiago. Editora Evangélica Esperança.
III – A ATUALIDADE DA EPISTOLA
1. Num tempo de superficialidade espiritual.
Relacionamento mais
intimo com DEUS (Andar com DEUS)
ANDAR, Metáfora de,
1. A metáfora do ato
de andar expressa a natureza geral da vida espiritual.
Isso é comum nas páginas do NT. Ver Gál. 5:16,25; 6:16; Rom. 4:12; 6:4;
8:1,4; 13:13; I Cor. 3:3; 7:17; Efé. 2:10; 4:1,17; 5:2,8,15; Fil 3:16-18;
Col. 1:10; 2:6; 4:5; I Tes. 2:12; 4:1,12; II Tes. 3: 11. A metáfora se
encontra em Paulo 33 vezes, e no resto do NT, 16 vezes. Nos filósofos
éticos, também é comum.
2. A orientação do
ESPÍRITO.
Andar no ESPÍRITO, na comunhão e sob a influência do ESPÍRITO, o Poder
Divino que cultiva em nós seus frutos. «Devemos dar os nossos passos pela
ajuda e orientação do ESPÍRITO», (Robertson, em Gál. 5:25).
Andai na luz! Assim conhecereis aquela
comunhão de amor, Que somente seu ESPÍRITO
pode dar. E que reina na luz
superior. Andai na luz! E nem mesmo O sepulcro
terá sombra temível: A glória espantará sua
tristeza, Pois CRISTO conquistou
também ali. (Bernard Barton)
3.Os Mandamentos e o
Andar
a. Todos OS mandamentos
éticos do N.T., estão relacionados ao modo de «andar», ou seja, à maneira do
crente conduzir-se neste mundo. O ato de andar é uma série de quedas
interrompidas. Em nossas imperfeições, caímos com frequência, e mesmo quando
andamos, levamos conosco muitas quedas. Porém, o crente autêntico acaba
encontrando a vitória cabal sobre todos os vicios.
b, O andar do crente
precisa envolver as seguintes características:
Honestidade (ver I Tes.
2:12).
Ser digno de DEUS (ver I
Tes. 2:12), ser digno do Senhor (ver Cal. 1:10), e ser digno de nossa
vocação (ver Efé. 4:1). No ESPÍRITO (ver Gã1. 5:25), e como filhos da luz
(ver Efé. 5:8).
Digno de DEUS.., I Tess
2. 12. No grego encontramos o termo aksio«, um advérbio muito bem traduzido
aqui, isto é, de maneira tal que o crente possa ser aprovado por ele, cuja
vida seja agradável ao Senhor, sendo conduzido, ao destino que o Senhor
planejou para nós, em CRISTO JESUS. (Comparar com Cal. 1:10). Essa passagem
diz: «...a fim de viverdes de modo digno do Senhor, para o seu inteiro
agrado, frutificando em toda boa obra, e crescendo no pleno conhecimento de
DEUS. É dessa maneira que podemos cultivar uma conduta digna. Também se
pode comparar com o trecho de Efé. 4:1: «Rogo-vos, pois, eu, o prisioneiro
no Senhor, que andeis de modo digno da vocação a que fostes chamados.....
Essa expressão tem sido encontrada em vários papiros e inscrições de tipo
diverso do N.T., bem como em antiquíssimos documentos cristãos, como em I
Clemente 21:1 e Policarpo 5:2.
4. A Maneira Digna de
Andar.
a. O seu exemplo é
CRISTO, o qual, como homem em que se tornou, enfrentou as mesmas tentações e
problemas com que nos defrontamos, mas triunfou sobre tudo e muito aprendeu
disso. (Ver Heb. 5:9).
Dessa maneira se tornou o
Pioneiro de nossa fé, mostrando-nos a vereda a seguir e como podemos
enveredar por esse caminho. (Heb. 2:10).
Ele dizia: «Vinde após mim? (Mat. 4: 19).
b. A maneira ideal de andar
leva-nos a uma missão específica que precisa ser cumprida, pois cada
indivíduo é singular e tem uma obra singular a realizar. (Apo. 2:17). Assim como o Pai enviou o
Filho em sua missão, assim também somos agora enviados (ver João 17:18).
c. A maneira ideal de
andar inclui a nossa comunhão com DEUS, através do ESPÍRITO, ao ponto mesmo
de sermos o templo do ESPÍRITO SANTO, o lugar onde ele habita. (Ver Efé.
2:20-22). Isso requer a santidade e as boas obras (Ver I Tes. 4:3 e Efé.
2:10).
d. A maneira digna de
andar requer que o crente ponha em prática os meios de desenvolvimento
espiritual:
O estudo dos documentos
sagrados, bem como de outros livros que sejam espiritualmente úteis.
5. Através desses
meios que nos
tomamos «dignos.. de DEUS, o qual nos chamou como seus filhos.
O Lado Negativo - o Andar
nas Trevas.
O «curso. geral da vida
conduz as pessoas aos vícios do paganismo, à participação na rebeldia
maléfica, fazendo-os enveredar por avenidas de degradação do corpo e do
espírito. A expressão, «andar nas trevas é usada somente nas obras joaninas.
(Comparar com João 8:12 e 12:35). Para que não andemos nas trevas,
precisamos da iluminação sobrenatural, pois o andar espiritual é inspirado e
dirigido pelo ESPÍRITO de DEUS.
É impossível tal alvo
para o homem natural. Este precisa de iluminação, de transformação, de
inspiração e de ajuda da parte de DEUS. A experiência mostra isso para nós,
porque frequentemente falhamos em nossas próprias forças; e quando a nossa
santidade depende de nossa própria iniciativa, tomamo-nos profanos. Para
andarmos santamente precisamos "nascer de novo". (ver I Ped. 1:23); e é o
poder residente, do ESPÍRITO SANTO, em nós infundido, que nos confere a
natureza moral de CRISTO.
CHAMPLIN, Russell
Norman, Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia. Vol. 1. Editora
Hagnos. pag. 161.
A insistência de Tiago
para que os cristãos pratiquem a palavra de DEUS, e não apenas a ouçam, e
sua exigência das obras como partes integrantes da fé, compõem esta ênfase.
A obediência à “lei da liberdade”, a exigência de DEUS resumida por JESUS,
deve ser sincera e coerente. E esta obediência tem um importante aspecto
social. O mandamento para que amemos nosso próximo como a nós mesmos é a
“lei régia” (2.8). Tiago insiste em que “a religião pura e sem mácula” deve
se manifestar no cuidado para com os desprivilegiados e menos favorecidos
(“visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações”, 1.27) e numa atitude
altruísta e mansa diante dos outros (3.13-18). O favoritismo demonstrado aos
ricos transgredi a “lei régia” (2.1-7), assim como também a maledicência
(4.11-12).
Douglas J. Moo.
Tiago.
Introdução e Comentário.
Editora Vida Nova. pag.
51-52.
2. Num tempo de confusão entre salvação pela fé ou pelas obras.
II Pd 3.14 Pelo fato de
os crentes poderem confiar na promessa de DEUS de lhes trazer uma nova
terra, e por eles estarem aguardando estas coisas, eles devem viver
imaculados e irrepreensíveis em paz. Em outras palavras, somente esta
esperança poderosa pode nos instigar a viver com justiça. O reino de DEUS
será caracterizado pela paz com DEUS; portanto, os crentes devem praticar a
paz com DEUS agora, preparando-se para vivê-la no reino. Não devemos agir
como preguiçosos e ser complacentes somente porque CRISTO ainda não
retornou. Na verdade, devemos viver em ansiosa expectativa de sua vinda. O
que você deseja estar fazendo quando CRISTO voltar? É assim que você deve
viver todos os dias.
II Pd 3.15,16 Enquanto
os crentes esperavam, talvez impacientemente, pelo retorno do Senhor, Pedro
os lembrou de que eles tinham por salvação a longanimidade de nosso Senhor.
A paciência de DEUS significa a salvação para muitos mais que terão a
oportunidade de responder à mensagem do evangelho.
Pedro e Paulo tinham um grande respeito mútuo ao trabalharem nos ministérios
para os quais DEUS os tinha chamado. Os
ensinos dos apóstolos nunca eram distorcidos pela pessoa, nem pela área de
ministério. Quer a carta viesse de Paulo, ou de Pedro, podia-se confiar que
a mensagem seria a mesma, pois ela tinha vindo, em primeiro lugar, do
próprio DEUS. Observe que Pedro escreveu sobre as cartas de Paulo como se
elas estivessem no mesmo nível das outras Escrituras. A igreja primitiva já
estava considerando as cartas de Paulo como sendo inspiradas por DEUS. Tanto
Pedro como Paulo estavam cientes de que estavam transmitindo a Palavra de
DEUS juntamente com os profetas do Antigo Testamento (veja I Ts 2.13). Nos
primeiros dias da igreja, as cartas dos apóstolos eram lidas aos crentes e
frequentemente passadas a outras igrejas. Às vezes, as canas eram copiadas e
somente então eram passadas a outras igrejas.
Quanto melhor
conhecermos a JESUS, menos atraentes serão os falsos ensinos. Os falsos
doutores distorciam todas as Escrituras para que elas significassem o que
eles queriam. No entanto isto podia resultar em perdição.
Comentário do Novo
Testamento Aplicação Pessoal.
Editora CPAD. Vol 2. pag. 758.
II Pd 3.15s Pedro não
está sozinho com sua exortação. Com ênfase ele acrescenta isto às suas
próprias palavras: Como também nosso amado irmão Paulo vos escreveu segundo
a sabedoria que lhe foi dada, como também em todas as cartas em que fala
desses assuntos. Neles algumas coisas são difíceis de entender, o que os
ignorantes e inconstantes distorcem, assim como as demais passagens da
Escritura, para sua própria perdição. Não é possível verificar se houve um
motivo especial que levou Pedro a dizer essa palavra sobre Paulo. No
entanto, é possível que nas igrejas a que ele se dirige a situação tenha
sido semelhante à de Corinto, onde os “fortes” na fé argumentavam com frases
de Paulo para justificar sua “liberdade”. Paulo considerou-se como um dos
“fortes” (Rm 15.1), mas ao mesmo tempo claramente protegeu a “liberdade”
também proclamada por ele (cf. 1Co 5.1-5; 6.12-20) contra mal-entendidos
grosseiros, limitando-a com profunda seriedade por meio do “amor” (1Co 8; Rm
14.14 e 15.7). Quantas opiniões e doutrinas erradas e perigosas
foram comprovadas “a partir da Bíblia”! Ou seja, isso já acontecia
naquela época, e Pedro
precisa proteger a igreja contra isso. As pessoas que “distorcem” frases de
Paulo ou outras passagens da Escritura fazem-no por risco próprio e para sua
própria perdição. É isso que a igreja tem de considerar seriamente.
Uwe Holmer.
Comentário Esperança Cartas aos II Pedro. Editora Evangélica Esperança.
II Pd 3.14-16 “E
lembrem-se por que Ele está esperando. Ele nos está dando tempo para
anunciar a sua mensagem de salvação aos outros” (Bíblia Viva). É impossível determinar o número de epístolas
paulinas a que Pedro se refere aqui, mas Robertson acredita que Pedro deve
ter lido todas elas um ou dois meses após a sua composição. De qualquer
forma, Pedro insiste que quanto à questão do retorno de CRISTO ele e Paulo
estão de acordo.
Ao falar dos indoutos e
inconstantes, que torcem as Escrituras para sua própria ruína, Strachan
aponta que a palavra indoutos (amatheis) “não significa tanto ‘indouto’, mas
‘mal educado’; uma mente não instruída e indisciplinada em hábitos de
pensamento, carecendo de qualidades morais para um julgamento
equilibrado”. A segunda palavra, inconstantes (astarikoi), “refere-se mais à
conduta, aqueles cujos hábitos não são plenamente treinados e
estabelecidos”. A razão óbvia e básica para se “traçar um sulco reto” na
Palavra de DEUS (2 Tm 2.15, NEB) é assegurar uma experiência cristã sadia.
Isso deve ser seguido de uma pesquisa diligente e prolongada pela verdade
unida com uma vida de devoção consciente e do comportamento ético.
Eldon R. Fuhrman.
Comentário Bíblico Beacon II Pedro.. Editora CPAD. Vol. 10. pag.
279-280.
Tg 2.21-24. O Argumento
de Abraão.
O versículo 21 fala de
Abraão como sendo justificado pelas obras. Isso parece estar em contradição
direta com Paulo, que escreveu: “Creu Abraão [tinha fé] em DEUS, e isso lhe
foi imputado como justiça” (Rm 4.3; cf. G1 3.6). Tanto Tiago quanto Paulo
recorrem à verdade em Gênesis 15.6 para suportar seus argumentos. A
reconciliação pode ser encontrada nos eventos específicos na vida de Abraão
à qual Paulo e Tiago se referem; também no sentido em que usaram o termo
justificado (v. 21).
Paulo refere-se à fé do
patriarca Abraão no tempo em que DEUS prometeu dar-lhe um filho (Gn 15.1-6).
A sua fé era uma fé que aceitava a promessa de DEUS sem ter provas
concretas. Tiago, por outro lado, referiu-se à fé do patriarca quando
ofereceu sobre o altar o seu filho (Gn 22.1-19). “Tiago não está falando da
imputação original de justiça a Abraão em virtude da sua fé, mas da prova
infalível [...] de que a fé que resultou nessa imputação era uma fé real.
Ela se expressava em uma obediência tão completa a DEUS que 30 anos mais
tarde Abraão estava pronto, em submissão à vontade divina, para oferecer o
seu filho Isaque. O termo justificado nesse versículo significa na verdade
‘revelado para ser justificado’”.
A interação inseparável
entre a fé cristã e a ação é deixada clara em uma tradução mais recente do
versículo 22: “Você pode ver que tanto a fé como as obras estavam atuando
juntas, e a fé foi aperfeiçoada pelas obras” (NVI). Se aceitarmos a
evidência de Tiago, devemos aceitar sua conclusão: “Vocês veem, portanto,
que um homem é salvo pelo que ele faz, tanto como pelo que ele crê” (v. 24,
A Bíblia Viva).
A expressão Abraão, o
nosso pai (v. 21) é, às vezes, usada para apoiar o argumento de que os
receptores dessa epístola eram judeus ou pelo menos de origem judaica. Mas o
conceito de Abraão como o “pai dos fiéis” — gentios e judeus — era um
conceito cristão do primeiro século (cf. Rm 4.16; G1 3.7-9).
Em apoio à realidade da
justiça de Abraão, Tiago ressalta que ele foi chamado o amigo de DEUS (v.
23). Em 2 Crônicas 20.7, Abraão é chamado de “amigo [de DEUS], para sempre”;
e em Isaías 41.8, DEUS chama Israel de “semente de Abraão, meu amigo”. Essa
expressão “amigo de DEUS” parece significar “que DEUS não escondeu de Abraão
o que propôs fazer (veja Gn 17.17). Abraão foi privilegiado em ver alguma
coisa do grande plano que DEUS estava realizando na história. Ele exultou em
ver o dia do Messias (veja Jo 8.56)”.
A. F. Harper.
Comentário Bíblico Beacon. Editora CPAD. Vol. 10. pag. 171-172.
A fé salvadora (Tg
2.20-26)
A fé salvadora pode ser
sintetizada em três palavras: notitia (conteúdo), assensus (concordância),
fiducia (confiança): conteúdo, concordância e confiança. A fé verdadeira
inclui o intelecto, as emoções e a vontade. O conteúdo da fé é a verdade de
DEUS. Eu recebo essa verdade e confio nela e por ela sou transformado.
Como Tiago descreve a
fé
verdadeira? Warren Wiersbe responde a esta questão oferecendo vários
pontos.
Em primeiro lugar, a fé salvadora está baseada na Palavra de DEUS.
James Boyce diz que o primeiro elemento da fé salvadora é o conteúdo
intelectual
expresso como doutrinas básicas do cristianismo. Tiago cita dois
exemplos;
Abraão e Raabe. Duas pessoas totalmente diferentes; Abraão, o amigo de
DEUS;
Raabe, membro dos inimigos de DEUS. Abraão, piedoso; Raabe, prostituta.
Abraão, judeu; Raabe, gentia. O que tinham em comum? Ambos confiaram na
Palavra de DEUS. A questão não é a fé, mas o objeto da fé. Não é fé na
fé.
Não é fé nos ídolos. Não é fé nos ancestrais. Não é fé na confissão
positiva. Não é fé nos méritos. É fé em DEUS e em Sua Palavra. A fé
está
baseada em um conjunto de verdades. A fé está estribada em DEUS e em
Sua
Palavra. Não é fé em subjetividades, mas fé na Palavra (e nos feitos de
DEUS
- Observação minha - Ev. Henrique - no caso de Raabe).
Em segundo lugar, a fé
salvadora envolve todo o ser humano. A fé morta toca apenas o intelecto. A
fé dos demônios toca o intelecto e também as emoções. Mas a fé salvadora
atinge o intelecto, as emoções e também a vontade. A mente entende a
verdade, o coração deseja a verdade, e a vontade age com base na verdade.
Em terceiro lugar, a fé
salvadora conduz à ação. Tiago cita dois exemplos de fé que produziram ação;
primeiro, o exemplo de Abraão. Gênesis 15.6 diz que Abraão creu e isso lhe
foi imputado para justiça. Gênesis 22.1-19 mostra a obediência de Abraão ao
oferecer o seu filho para DEUS, crendo que DEUS poderia ressuscitá-lo (Hb
11.19). Abraão náo foi salvo por obedecer a esse difícil mandamento. Sua
obediência provou que ele já era salvo. Abraão não foi salvo pela fé mais as
obras, mas pela fé que produz obras.
Como, então, Abraão foi
justificado pelas obras, uma vez que já tinha sido justificado pela fé (Gn
15.6; Rm 4.2,3)? Pela fé, ele foi justificado diante de DEUS, e sua justiça
foi declarada. Pelas obras, ele foi justificado diante dos homens, e sua
justiça foi demonstrada. A fé do patriarca Abraão foi demonstrada por suas
obras.
Segundo, o exemplo de
Raabe. Ela creu e agiu. Ela ouviu sobre DEUS e reconheceu que estava
em uma cidade condenada. Ela não somente entendeu a mensagem, mas seu
coração foi tocado (Js 2.11), e assim fez alguma coisa: protegeu os espias
(Hb 11.31). Ela arriscou sua própria vida para proteger os espias. Mais
tarde ela fez parte do povo de DEUS (Mt 1.5) e tornou-se membro da
genealogia de CRISTO. Isso é graça que opera a fé salvadora.
O apóstolo Paulo diz que
do mesmo jeito que somos destinados para a salvação, somos também destinados
para as boas obras. Se a ordenação é determinativa no caso da salvação,
também o é no caso das boas obras. A salvação é só pela fé, mas por uma fé
que não está só. Uma fé viva se expressa por obras, ou seja, uma vida que
traz glória a JESUS.
Paulo ainda nos exorta a
um autoexame; “Examinai-vos a vós mesmos se permaneceis na fé; provai-vos a
vós mesmos. Ou não sabeis quanto a vós mesmos, que JESUS CRISTO está em vós?
Se não é que já estais reprovados” (2 Co 13.5). A fé salvadora precisa ser
examinada; houve um tempo em que, sinceramente, reconheci meu pecado diante
de DEUS? Houve um tempo em que meu coração desejou fortemente fugir da ira
vindoura? Houve um tempo em que compreendi que CRISTO morreu pelos meus
pecados e já confessei que não posso salvar-me a mim mesmo? Houve um tempo
em que sinceramente eu me arrependi de meus pecados? Houve um tempo em que
realmente depositei minha confiança no Senhor JESUS? Houve um tempo em que
de fato houve mudança em minha vida? Desejo viver para a glória de DEUS,
pregar a salvação para os outros e ajudar os necessitados? Tenho prazer na
intimidade com DEUS? Se você pode responder a essas perguntas positivamente,
então os sinais da fé verdadeira estão presentes na sua vida.
LOPES. Hernandes Dias.
TIAGO
Transformando provas em triunfo.
Editora Hagnos. pag. 51-55.
Tg 2. 24 “Vedes que uma
pessoa é justificada por causa de suas obras e não simplesmente da fé”:
Tiago chega a essa conclusão geral. Paulo, porém, escreve: “Concluímos,
pois, que o homem é justificado pela fé, independentemente das obras da lei”
(Rm 3.28). Em Rm 3.28 está em jogo a questão de como,
afinal, acontece a aceitação do pecador por DEUS (na parábola de Lc 15.11ss:
o filho pródigo aceito pelo pai). Paulo diz: não por “obras da lei”, ou
seja, não quando o filho cumpre quaisquer condições prévias, mas unicamente
pela aceitação confiante da bondade do Pai. Tiago, porém, tem em vista outra
questão: como o filho aceito misericordiosamente passa a se conduzir na casa
do pai; a aceitação da bondade do pai tem de ser sucedida pela disposição de
se deixar engajar por essa bondade. DEUS nos acolhe assim como somos, mas
ele não nos deixa permanecer como somos.
Fritz Grünzweig.
Comentário Esperança Carta De Tiago. Editora Evangélica Esperança.
3. Uma fé posta em pratica.
O Significado e a
função da fé.
a. A fé é um atributo da
alma; não é algo que possa ser aprendido pela experiência física. Não vem
mediante o exercício dos cinco sentidos. Não é algo que se aprende na
experiência humana. Por exemplo, não é fé esperar o recebimento de um cheque
no mês seguinte estivermos trabalhando e costumamos receber nosso salário
desse modo. Isso é confiança, e não fé. Confiamos que receberemos mais um
cheque, e a confiança se baseia na experiência humana, através dos cinco
sentidos. Um outro exemplo não é a fé que nos faz sentar numa cadeira, sem
testá-la (exemplo usado pelos pregadores), Isso também é confiança, pois
Já temos aprendido pela experiência humana, através dos cinco sentidos, que
as cadeiras ordinariamente aguentam o peso do corpo humano.
Portanto, sentar-se em
uma cadeira sem testá-la primeiro, não é fé.
b. A fé é, em vez
disso, um atributo da alma que não depende da experiência física que nos vem
mediante o exercício dos cinco sentidos. A fé tem sua base no conhecimento.
Esse conhecimento é diretamente intuitivo, sobre as realidades espirituais,
como a existência eterna da alma, a realidade de DEUS, a realidade das
coisas espirituais, o governo de DEUS, o firme destino da alma que se acha
em DEUS, etc. A alma é o elo entre DEUS, as coisas espirituais e a
consciência humana. A alma conhece a realidade de DEUS e das coisas
espirituais, bem como o seu próprio destino. A alma sabe, portanto, crê. A
fé, pois, é um atributo da alma. O problema consiste em como permitir que a
alma entre em comunicação com a mente consciente. É: neste ponto que o homem
bloqueia o conhecimento natural e intuitivo de seu ser interior (a alma).
Ele bloqueia esse conhecimento com pensamentos e ações carnais, enfatizando
o que físico e negligenciando as coisas do espírito. O homem perdeu o
conhecimento de como entrar em contato com sua própria porção superior, ao
ponto de algumas vezes negar a existência dessa porção superior, dizendo que
a alma não existe.
c. O plano de DEUS na
criação foi o de dar ao homem a capacidade de conhecer o seu Criador, bem
como o de ser capaz de conhecer as realidades espirituais em geral, DEUS
criou de tal modo a alma humana que ela pode, por dotes naturais, entender
tais coisas. Esse conhecimento provém da alma. A alma age como transmissor
para a mente consciente. A fé não pode ser destruída, tal como não pode ser
destruída a alma. A fé, porém, pode ser ocultada pela mente consciente,
devido à perversão do individuo, ou podemos negligenciar-lhe o
desenvolvimento nas coisas espirituais. Tão completo pode ser esse bloqueio
da fé que nem um único raio de luz venha a iluminar a mente fosca, a
consciência, Assim, um homem pode chegar a nem mesmo crer na existência de
sua própria alma, ou na existência do seu Criador.
No entanto, a alma sabe
da verdade dessas coisas, a fé continua existindo, mas não pode esse
conhecimento ser transmitido ao individuo consciente.
A FÉ E AS OBRAS.
A fé não é alguma nova
espécie de obra que agrade a DEUS mais do que as obras legalistas, de tal
modo a tomar-se em «mérito», sobre cuja base DEUS nos daria a salvação. Pois
a verdadeira base da salvação é a graça, e isso por causa da expiação pelo
sangue de CRISTO (ver Efé. 2:8 e Rom. 3:25). A fé é o instrumento que recebe
tal bênção, não sendo base ou mérito para tal recebimento. A fé é,
naturalmente, produtiva por sua própria natureza inerente, pelo que produz o
fruto das boas obras. Não existe tal coisa como fé sem santificação; pois a
santificação é o meio mesmo da salvação (ver 11 Tes. 2:13). A fé estéril não
é a fé salvadora. A fé não é credal, mas é a operação do ESPÍRITO de DEUS,
feita no homem interior, mediante o que começa a ser efetuada a
transformação do crente segundo a imagem de CRISTO.
Fé em Hebreus 11:1
Ora, a fé é o firme
fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que não se veem.
A palavra «fé» ocorre
por duzentas e quarenta e quatro vezes nas páginas do N.T.; mas o conceito
de fé, mediante o uso de outros termos, ainda é mais frequente. A fé, em
seus muitos aspectos, conforme é demonstrado acima, é um dos princípios mais
importantes do N.T.. Por toda a parte se insiste sobre essa qualidade e se
requer a mesma. A fé indica a apropriação de tudo quanto DEUS nos oferece
por meio de CRISTO. e a completa outorga da alma aos cuidados do Senhor.
A fé é a certeza das
coisas que se esperam. O grego, aqui traduzido por «certeza» é da palavra
grega comum para indicar a «natureza real» ou «natureza essencial» de alguma
coisa, com frequência traduzida por «substância». Significa a «realidade» de
algo, em contraste com seus meros «acidentes». Este último termo indica algo
«não essencial» à existência de qualquer coisa como a cor e outros aspectos
superficiais. No trecho de Heb. 1:3, esse vocábulo é usado para falar sobre
o ser de CRISTO, que é a exata «substância» do ser do Pai, o que é indicação
extremamente clara de sua divindade. O uso dessa palavra por parte do autor
parece indicar que ele encarava a fé como algo que dá «substâncias às
realidades invisíveis, em nosso consciente. A fé «consubstancia» o mundo
eterno e invisível para nós, trazendo até nós as suas realidades, como se
ele realmente se fizesse presente, embora continue ausente. A fé é o meio
que dispomos para «ver», «aceitar» e «aplicar>> o mundo invisível; é o meio
através do qual «vivemos segundo as dimensões eternas». Portanto, a fé é
mais do que «certeza». Esta é um dos resultados da fé. Temos certeza e
convicção sobre o mundo espiritual e suas exigências, a nós impostas; e isso
nos vem pela fé; mas a fé nos traz essa realidades, que fica consubstanciada
ao passo que, para outras pessoas, tal realidade permanece uma teoria, ou
mesmo um sonho louco.
CHAMPLIN, Russell
Norman, Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia. Vol. 2. Editora
Hagnos. pag. 694, 696-697.
Fé e obras
Uma comparação entre
Romanos 4 e Tiago 2 revela uma aparente semelhança na escolha das palavras
fé e obras e na citação de Gênesis 15.6: “Abraão creu em DEUS, e isto lhe
foi imputado para justiça” (Rm 4.3; Tg 2.23). Qual é a relação entre a
apresentação de Paulo da fé e das obras em Romanos e a de Tiago em sua
epístola?
Alguns comentaristas
afirmam que Tiago escreveu sua epístola para criticar os ensinamentos de
Paulo sobre fé e obras. Dizem que Paulo foi mal-entendido pela igreja, pois
separou os conceitos de fé e obras. Tiago via um perigo nos ensinamentos
apresentados por Paulo, a saber, da fé sem
obras. Assim, pelo fato de alguns cristãos terem interpretado incorretamente
a frase sem obras, Tiago escreveu sua carta para reforçar o ensinamento de
que a fé resulta em obras.
Na opinião de outros
estudiosos, Tiago escreveu sua epístola antes de Paulo começar sua carreira
como escritor, ou seja, depois que a Epístola de Tiago começou a circular na
igreja primitiva, Paulo escreveu sua carta aos romanos para apresentar uma
melhor compreensão do significado da fé sem obras.
Tanto Tiago quanto Paulo
desenvolvem o tópico de fé e obras, cada um de sua própria perspectiva e
cada um com seu propósito. Tiago usa a palavra de modo subjetivo, no
sentido de confiança e segurança no Senhor. Essa fé ativa dá ao crente
perseverança, certeza e salvação (1.3; 2.14; 5.15). A fé é o envolvimento
ativo do crente com a igreja e o mundo. Pela fé, ele recebe sabedoria (1.5),
justiça (2.23) e cura (5.15).
Paulo, por outro lado,
com frequência, fala da fé de modo objetivo.
Fé é o instrumento pelo
qual o crente é justificado diante de DEUS (Rm 3.25,28,30; 5.1; G12.16; Fp
3.9). A fé é o meio pelo qual o crente se apropria dos méritos de CRISTO.
Por causa desses méritos, o homem é justificado diante de DEUS. A
justificação, portanto, vem como uma dádiva de DEUS para o homem - um dom
que ele toma para si pela fé. A justificação é a declaração de DEUS de que
ele restaurou o crente pela fé, colocando-o num relacionamento correto
consigo mesmo.
Em sua discussão sobre
fé e obras, Tiago parece escrever de maneira independente da carta de Paulo
aos romanos. Tiago aborda o assunto de um ponto de vista mais prático do que
teológico. Com efeito, sua abordagem é simples, direta e consequente. A
discussão de Paulo representa um estágio avançado do ensinamento que
relaciona a fé com as obras. Pelo fato de a abordagem de Tiago diferir
bastante da de Paulo, concluímos que ele escreveu sua epístola independente
do ensinamento de Paulo e talvez até antes da redação de Romanos.
Simom J. Kistemaker.
Comentário do Novo Testamento Tiago e Epístola de João. Editora Cultura
Cristã. pag. 27-28.
Fonte: www.apazdosenhor.org.br
Fonte: www.apazdosenhor.org.br